quinta-feira, 5 de junho de 2008

Espada (I)

São Paulo, o combatente e o sofredor

Ao subir para a Basílica de São Pedro, colocou Pio IX, no século XIX, duas majestosas figuras do apóstolo Pedro e Paulo. Ambos se reconhecem pela sua simbólica: a chave nas mãos de Pedro, a espada nas mãos de Paulo.

A Espada de Paulo

1. Instrumento da sua execução: morreu pela espada
Quem não conhecer a história do cristianismo e observar esta figura vigorosa do apóstolo das gentes, podia chegar à conclusão que se tratava de algum general ou um guerreiro que tenha feito história com a espada para domi¬nar os povos. Seria mais um que ganhou fama e riqueza à custa de sangue derramado. O cristão sabe que a espada na mão deste homem tem um significado diferente: é o ins¬trumento da sua execução. Como cidadão romano, não podia ser crucificado como Pedro. Morreu pela espada. Mesmo que isso fosse considerado uma forma mais nobre de condenação à morte, na história da Igreja ele pertence às vítimas do poder e não aos carrascos.

2. A espada do seu combate
Quem aprofundar as cartas de Paulo, tentando encontrar nelas como que uma autobiografia escondida do Apóstolo, reconhecerá logo, que com o símbolo da espada, o instrumento da paixão, não se diz só algo sobre os últimos momentos da vida de São Paulo. A espada pode efectivamente caracterizar a sua vida toda: “Combati o bom combate”, diz ele no momento da morte a Timóteo, seu discípulo preferido, fazendo a retrospectiva da sua vida (2 Tim. 4,7).É por estas palavras que Paulo é descrito como um combatente, um homem de acção, uma natureza violenta. Uma observação superficial sobre a sua vida pode dar azo a este equívoco: Percorreu em quatro grandes viagens uma grande parte do mundo conhecido de então, tornando-se verdadeiramente o apóstolo das gentes, que levou o Evangelho de Jesus Cristo “até aos confins da terra”. Através das suas cartas procurou manter a unidade das comunidades que fundou, contribuir para o seu crescimento e cuidar da sua perseverança.Temperamental, soube enfrentar adversários que nunca lhe faltaram. Investiu todos os meios na “obrigação da evangelização que lhe foi imposta (I Cor. 9, 16), com a maior eficácia possível. Assim, será sempre apresentado como o grande activista, como patrono dos inventores das novas estratégias da pastoral e da missão. Esta visão não está errada, mas não é o Paulo total; na realidade, quem assim o vê, perde o essencial da sua figura.

Joseph Ratzinger

(IN CARDEAL RATZINGER – BENTO XVI, Esplendor da glória de Deus. Meditações para o ano litúrgico, Editorial Franciscana, Lisboa 2007.)

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