terça-feira, 1 de julho de 2008

Alocução do Prior

da Comunidade do Carmo de Viana do Castelo
na Eucaristia de Acção de Graças
pelos 390 anos da fundação da vida carmelitana
Caros irmãos e irmãs Carmelitas
Caro irmão bispo Dom José Augusto

Santa Teresa de Jesus, nossa Mãe, fundou o Carmelo de São José de Ávila no dia 24 de Agosto de 1562. Ali viveu cinco anos que dedicou à oração contínua e à intimidade com Deus. Vivendo ali pacificamente, acalentava, porém, um sonho que ia germinando no seu coração: «fazer o pouco» que estava em suas mãos, porque tinha recebido «notícias dos danos e estragos que em França faziam os luteranos; de como crescia essa desventurada seita, e de como tantas almas se perdiam». Havia pois que fazer algo.

Chegou por fim o Pe. João Batista Rubeo, Visitador Geral, que trazia no alforge as autorizações do Papa Pio V para reformar a Ordem. Foi grande a sua alegria quando conheceu a Madre Teresa de Jesus e a sua obra entre Irmãs.
Também lhe entregou patentes para que igualmente fundasse entre os Irmãos. E logo ela, como que inspirada, deitou mão do melhor que então havia: do pequenito e recém-ordenado Frei João da Cruz!

E foi assim que no primeiro domingo do Advento de 1568 [exactamente no dia 28 de Novembro] Frei João da Cruz fundou o nosso berço: o conventinho de Duruelo, que já não existe.

As patentes de Pio V autorizavam a que se fundasse conventos masculinos com igual estilo de vida, mas que fossem de homens tais como «claros espelhos, lâmpadas ardentes, tochas acesas, estrelas resplandecentes capazes de esclarecer e guiar os viajantes deste mundo
Este é o nosso encargo de Carmelitas Descalços em Viana do Castelo.

O primeiro convento do Carmo a nascer em Portugal foi o de Nossa Senhora dos Remédios, fundado em Lisboa no dia 15 de Outubro de 1581, pelo Padre Ambrósio Mariano de São Bento. Tinham passado 23 anos desde a fundação do de Duruelo, e era o primeiro que se fundava fora da Pátria dos Santos Fundadores.
Trinta e sete anos após o primeiro Convento português, fundou-se em 1618 este Convento do Carmo de Viana do Castelo. Era a nona fundação em terras lusas.

Não foi de todo fácil a fundação; e, aliás, não faltaram oposições de quem deveriam vir as obrigações. Mas valeu o bom senso da Câmara da Vila de Vianna, dos seus Vereadores e dos que desejavam a nossa presença, que bem se ilustra em palavras do Dr. Manuel Jácome Bravo, Desembargador, que assim argumentou: «Uma companhia de Carmelitas Descalços dá muita nobreza a uma terra, porque, como soldados de Cristo e mercadores do Céu, esforçam a devoção, fazem guerra aos vícios e abrem lógea de mercadoria e trato espiritual, onde tanto havia da terra

O resto da história não é toda de todo conhecida. Mas também não me posso alargar. Basta que se saiba que quando os ventos contrários nos contrariaram a nau e nos impeliram a sair, saímos. Saímos do que era nosso, deste Convento onde se fazia bom comércio com o Céu.
E ficaram mais livres as mãos e as consciências para aumentar o comércio da Terra, nesta terra que o tinha até ao excesso.
Regressamos a Viana no dia 13 de Junho de 1932 para recolher os cacos e as ruínas que restavam, porque a estreiteza dos que só comerciam mercadoria da Terra a isso conduz.
Regressamos a Viana porque todas as épocas (e também a nossa) precisam de quem saiba fazer o bom comércio com o Céu; e de quem saiba ter o bom trato espiritual; e porque em todas as épocas existem vícios que espantar e necessidade de combater e de esforçar o aumento da devoção.

Muito obrigado, meus irmãos e irmãs Carmelitas e irmão D. José Augusto, pela vossa presença e oração, cujo significado compreende tudo isto e também a necessidade de, em conjunto, soprarmos a cinza das brasas, a fim de que se mantenham vivas em Viana do Castelo «as lâmpadas, as tochas e as estrelas capazes de esclarecer e guiar os viajantes deste mundo».
E tudo isto para que o Reino seu aumente, para que a Mãe do Senhor coroada com o título do Monte Carmelo seja louvada, e para maior honra e glória da Santíssima Trindade.

Frei João Costa, Prior
Carmo de Viana do Castelo e 1 de Julho de 2008

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