segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

São Paulo – o meu olhar pessoal sobre o quadro da nossa igreja

Ao contrário das representações de homens e mulheres que pela sua vida são referência para a Igreja, onde os encontramos representados como pessoas belas, em posturas erectas, com vestes mais ou menos sumptuosas, temos aqui um homem que pelo seu despojamento está extremamente próximo de nós.
O quadro patente nesta Igreja do Carmo, pintado pelo jovem Hugo Soares, leva-me à seguinte tentativa de reflexão interpretativa: eis um homem — Saulo, Paulo, o Apóstolo —, aparentemente baixo, calvo, de feições marcadas pela vida, sem beleza disitintiva. Segundo dados aproximados à tradição da Igreja.
A perna esquerda de São Paulo está firme e bem apoiada no chão, pois foi um homem de convicções fortes e temente a Deus, mas não à justiça volúvel dos homens.
A perna direita encontra-se dobrada num plano superior, num estrado, e por isso mais longe da terra e mais próxima do céu, mas em sinal de sujeição ao Criador.
Este estrado está em fractura desde o chão fazendo-me recordar os períodos de maior bonança da história, nos quais o homem sempre mais se afastou da palavra dos profetas de Deus. Todavia Paulo é exemplo de quem nunca deixou de estar sempre atento à vontade de Deus.
A túnica que praticamente não cobre o corpo de Paulo simboliza o estar nu, isto é, desprotegido, mas receptivo à vontade de Deus e disponível para a acção.
Na mão esquerda, a espada aponta para baixo, para a terra onde está a maçã e ao mesmo tempo apresenta-o combatente de todos os males terrenos; na mão direita figura um livro representando as suas Cartas de inspiração divina e legadas à Humanidade.
A tez morena de homem mediterrâneo aproxima-o ainda mais de nós, pecadores.
A maçã, bichada, remete o meu pensamento para o Paraíso, para o momento em que a serpente tenta Eva e a insidia a desrespeitar a vontade do Criador, colhendo o fruto e dando-o a Adão, seu marido.
Desde então a terra está contaminada pelo mal, pelo bicho da maçã, sendo necessário ao homem, estar permanentemente alerta para não ser atingido pelo mal, que se encontra, em permanência, ao seu lado.
Também a vida de Saulo — dir-se-ia uma má vida —, se transformou numa vida de serviço, de luta permanente pela justiça, e de arrojado anúncio da boa nova do Evangelho.
O Apóstolo é um homem admirado e venerado pelos séculos — nem faltou quem o apelidasse de fundador do Cristianismo! —, porém, permanentemente, ele dobra-se humilde à vontade divina, embora mantenha a cabeça firme e erguida para Quem num sobressalto o fulgurou durante uma noite em pleno meio dia.
João Ramos
Chama do Carmo I NS 15 I 25 Janeiro 09

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