segunda-feira, 23 de março de 2009

Homens escuros e sem luz

Existem homens luz e homens sombra. São mais os segundos. É bem certo que o mundo não gosta da Luz, porque a Luz denuncia as sombras e as escuridões de quem se diz iluminado e é só noite.
Quem faz as obras da luz aproxima-se da Luz para que sejam vistas.
Quem faz as das sombras, foge e oculta-se defendendo-se na escuridão.
Dão-se a seguir quatro exemplos de homens sombra e noite, que em diferentes épocas expulsaram a Luz, até que, por fim, Ela os alcançou, os iluminou, os seduziu, os incandesceu.
São quatro histórias simples que mostram que, por vezes a Luz é mais forte e vence.
Diz-se que quando encontramos uma pérola valiosa nos empenhamos de veras em adquiri-la.
Foi isso que fizeram os quatro exemplos que damos (haveria muitos outros) e é isso que havemos de fazer nós também, porque também nós somos luz, pertencemos à Luz, e não à sombra ou à noite!

Agostinho
Metade da sua vida foi caminho de escuridão. Não lhe faltaram oportunidades para caminhar na Luz... A mãe tentou educá-lo o melhor possível, mas ele não escutava a mãe. Um grande amigo seu estando em perigo de morte disse-lhe que estava a preparar-se para receber o Baptismo, mas ele riu-se do amigo. Teve a Bíblia na mão e poderia ter lido algo, mas pareceu-lhe um livro feito para gente de pouco cultura.
Caminhou 32 anos nas trevas, numa busca contínua até alcançar a Luz que, sem saber buscava mal: buscou-A nas tabernas, na seita dos maniqueus, na libertinagem, no jogo, nas discussões, na filosofia. Queria ser feliz mas não era, tudo era escuridão. Um dia contemplando um bêbado teve inveja dele: ao menos o bêbado ainda se ria.
Mas como não parava de buscar foi alcançado pela Luz e a sua vida iluminou-se e mudou de rumo. Chama-se Agostinho, Agostinho de Hipona, é o grande S. Agostinho!

André
Era nobre de nascimento, não de vida. Quem com os lobos anda com eles aprende a uivar e caçar. A sua vida de menino rico e mimado era exclusivamente dedicada à caça, aos jogos e aos amores. A da mãe, a chorar e a rezar na Igreja do Carmo da cidade. Não lhe faltaram os bons exemplos e modelos, mas ele preferia os maus, os prazeres e os vícios.
«Lobo feroz te vi eu em sonhos antes de nasceres», gritou-lhe, desesperada, a mãe certa vez. E aí o rapaz converteu-se. A mãe deixou de precisar de ir à igreja para chorar e rezar, mas passou a ir o filho.
Quando no palácio anunciou que se faria Carmelita a mãe declarou: «O meu filho será sempre louco, mas eu prefiro esta loucura.» Foi Carmelita, um grande Carmelita. Abandonado o luxo e a vida louca revestiu-se com um pobre hábito remendado. Foi depois um grande bispo construtor de paz. Chama-se S. André Corsini.

Hermann [Agostinho]
Era judeu. Aprendeu piano aos 4 anos, foi o aluno preferido de Liszt. Em Paris iniciou uma carreira brilhante como pianista, professor e compositor. Foi amigo dos mais famosos anticatólicos do seu tempo. Frequentou os salões da aristocracia da Europa, ganhava imenso dinheiro e perdia-o copiosamente no jogo. Mergulhou em todos os vícios. E quase se afogou. Aos 28 anos inicia a sua iluminação quando, a pedido do princípe de Moscovo, toma provisoriamente a direcção do coro da sua capela particular. Não sendo crente sente uma comoção particular durante a bênção do Santíssimo. O sentimento repete-se a cada Sexta-feira. Converte-se — Os amigos dizem-no transtornado pelos excessos! —, baptiza-se e faz-se Carmelita. O Frei Agostinho do Santíssimo Sacramento é o fundador da Adoração Nocturna.

João
É português. Afoito, fugiu de casa aos oito anos, sem dinheiro nem qualquer outro apoio. A mãe morreu de desgosto com a notícia. O pai morreu mais tarde também desgostoso, num convento.
Quando a negrura da fome e do frio apertaram foi pastar gansos, depois cabras, por fim vacas. Mas a vida de armas era mais aventureira e apelativa que a de pastor. E com uma espada na mão era um terror temido!
Desertou do exército e quase deixou a cabeça na forca. Serviu um nobre português exilado da fortuna, fundou uma livraria, e nunca deixou, ao que parece de ser devoto de Nossa Senhora. Até nada da sua vida fora especialmente belo e exaltante. Um dia ouvindo um sermão decidiu mudar de vida: ofereceu os livros bons, queimou os maus. Prenderam-no por isso, porque parecia louco! Soltaram-no. Quando em Granada ardeu o Hospital Real a cidade ficou impotente a apreciar o espectáculo. Só o Louco rompeu as chamas e salvou todos os doentes acamados. Deixou ali de ser o Louco para passar a ser o Santo. Deu o resto da sua vida aos pobres, aos doentes e aos inválidos. Muitos o imitaram, chama-se São João de Deus.

Estes e outros muitos e muitas viveram no reino das trevas, mas fizeram a passagem para o da Luz. Convenceram-se que eram grandes e não passavam de míseros vassalos. Quando escolheram ser vassalos foram grandes e encheram o mundo de Luz!
Chama do Carmo I NS 23 I 21 de Março de 2009

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