sábado, 27 de junho de 2009

E depois do Ano paulino?

Era uma noite quente e cansada. Não convidava à reflexão mas a bebidas frescas e ao afago da brisa suave. Ainda assim, na passada Quinta-feira, 18 de Junho, a Sala dos Terceiros encheu-se para escutar o Pe Armindo Vaz, Carmelita Descalço, teólogo e biblista a quem a Academia bem conhece mas desconhecido para os que vivem para além do claustro. Foi um gosto ouvi-lo durante mais de uma hora naquela noite abençoada.
Ficaram assim inauguradas As Noites do Carmo, que se espera tragam no futuro quem nos faça pensar, nos centre nas pegadas de Cristo e nos sintonize com o pulsar da história da humanidade e da vida da Igreja.
O que propusemos ao Pe Armindo foi que nos falasse do depois da celebração do Ano Paulino.
E ele respondeu ao desafio fazendo-nos passar primeiramente por um resumido e sumarento esboço
da espiritualidade paulina. Aconselha-se vivamente a consulta do blog da Comunidade e a estudar o breve resumo feito pelo próprio: http://chamadocarmo.blogspot.com/2009/06/e-depois-do-ano-paulino_20.html.

O Apóstolo da comunicação
Julgo que até mesmo entre os que pouco sabem do Apóstolo, dificilmente desconhecerão que foi este o maior propagador da notícia cristã. Todos os outros (nada menos que doze!) falaram para dentro da tradição judaica ou tardaram a sair das suas fronteiras culturais.
Paulo destacou-se pela urgência de falar para fora. Foi esse o seu carisma, é isso que todos podemos aprender dele: falar, falar para fora, falar clara e corajosamente da salvação de Jesus, falar para quem desconhece que ela é universal. Apresentar a proposta salvadora de Jesus nos sites, blogues, twitter, hi5, mySpace, flickr e tantos outros canais é tarefa quase por começar, inconclusa e que bem podemos aprender do espírito zeloso de Paulo, que cruzou todas as fronteiras culturais do seu tempo, sem se
dispensar de a todas anunciar com frescura a Verdade sempre nova que todos anseiam.

Discípulo incansável e fiel
Era uma personalidade inadiável, inflexível, quase violento. Pelas convicções a que aderiu perseguiu convictamente a Cristo na pessoa dos discípulos, chegando a consentir na sua morte. Derrubado, porém, pela Luz e por Ela iluminado o seu erro,
foi um discípulo intransponível, um aríete incansável, ardente como uma fornallha e manso como uma pomba.
Bom conhecedor do excesso de ofertas sedutoras e enganosas que o mundo sempre (e ainda hoje) proporciona aos que abraçam a fé em Cristo, Paulo fala e incarna o que fala. Por isso, Paulo a si mesmo se ofereceu como modelo de discípulo e de acção; disse: «Sede meus imitadores, como eu sou de Cristo.»
O tempo urge, a sementeira é sempre ali. Volvido o Ano Paulino e a contemplação do modelo, urge, sem medo, imitá-lo, pois o Apóstolo bem sabia que não basta falar é preciso trabalhar.

O sinal da Cruz
Paulo completa no seu sofrimento o que falta à Cruz de Cristo. À primeira vista tal é inaudito e parece impossível, porém por ele é visto como graça e missão de todos e para todo o sempre. Apedrejado, flagelado, prisioneiro, marcado para morrer, doente, com lágrimas nos olhos e as marcas de Cristo em seu corpo, Paulo sofre com um espinho na carne. Perseguido e fugitivo escapou escondido num cesto, passou por perigos no mar, nos rios, no deserto, nos naufrágios, foi incompreendido pelos irmãos de raça, pelos pagãos e pelos falsos irmãos. Mas todo esse sofrimento lhe trouxe vigor, desassombro e ímpeto missionário. Olhando-o só se pode enfrentar o futuro pedindo a mesma energia indomável, a obstinação missionária, vontade férrea, ternura de mãe, calor humano, generosidade de acção, oração e amor à Igreja. O Ano Paulino só pode fortalecer-nos no compromisso de colaboração mais generosamente da salvação dos irmãos pela comunhão no mistério pascal da Cruz do Senhor.

O fim das diferenças e assimetrias
É convicção de Paulo que a partir de Cristo já não existe mais diferenças entre escravo e homem livre, entre homem e mulher, entre judeu e grego, entre europeu e africano, entre detentor do poder e os deserdados dele.
Aos sem poder pede-lhes que acreditem na vida comunitária e que sejam perseverantes na fé, e que pela união a Cristo se revoluciona todo o sistema social que humilha e explora.
Agora vivemos em Cristo, como explicou aos coríntios. Todos somos filhos de Deus; essa é a nova condição que possibilita uma nova visão de cidadania, pela qual ninguém é estranho a ninguém.
Na verdade, sempre que se evidenciam as diferenças gera-se divisão, estropia-se a harmonia e fere-se a comunhão e a fraternidade.
Para o cristão não existe outro viver e consentir que o de Cristo, e Cristo não pode dividir-se ou contradizer-se.
Depois do Ano Paulino, Cristo só pode crescer.
ChamadoCarmo I NS37 I 28 de Junho de 2009

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