sábado, 21 de novembro de 2009

Obrigado, grande Rei!

Terminamos o ano litúrgico colocando Jesus no lugar mais alto das nossas vidas. Não é uma entronização encenada de poderes e resplendores que muito encenam e nada são. O que sim, o que nós declaramos com a nossa presença nas igrejas e com a celebração desta festa é que Jesus é a nossa referência maior, e o referente de toda a pessoa que trabalha pela verdade e pela justiça, pela reconciliação e pela paz.
Jesus é rei porque anunciou e inaugurou o reino de Deus. Mas o que é o reino de Deus? Aqui fica a resposta com as respostas erradas. Só depois vem a certa.

Os nacionalistas
identificavam o reino de Deus com a restauração da monarquia do célebre rei David. Esse reconhecimento implicava obviamente um confronto militar com o Império Romano que ocupava Jerusalém. Jesus nunca assumiu esta posição.

Os sacerdotes
identificavam o reino de Deus com a restauração do Templo de Jerusalém. Jesus jamais assumiu essa opção; antes preferiu chamar ao Templo uma «cova de ladrões» e um «mercado».

Os fariseus
identificavam o reino de Deus com o império da Lei. Segundo eles o Messias ensinaria todo o Povo a cumprir excelentemente a Lei e assim se construiria o reino de Deus. Esta também não é a opção de Jesus, que sempre pôs a Lei ao serviço do homem!

Jesus
seguiu por outro caminho e identificou o reino de Deus com a vida do povo pobre e oprimido. Jesus é rei porque cura os doentes e dá vida aos mortos; porque veio trazer vida e vida em abundância. Jesus é rei e reina na cruz, desde a pobreza e o despojamento, o não-poder e a identificação com os pequeninos. Jesus é rei porque proclama e inaugura o reino de Deus, um reino que não se identifica nem com a monarquia nem com o Templo nem com a Lei, apenas com o povo pobre. O poder de Jesus Rei é o poder de libertar da opressão.

Para nós
proclamar Cristo como Rei é viver diariamente os valores do seu reinado. Ele quer ser proclamado Rei pela humildade do nosso serviço à vida, pelo nosso compromisso com os pobres, pela afirmação do nosso testemunho pessoal nos ambientes onde acontece a nossa vida: nas nossas famílias, nas nossas escolas, nos nossos trabalhos, nos nossos amigos. Jesus é hoje Rei se O soubermos afirmar como Ele se disse a Si mesmo e aos mesmos a quem Ele se disse e por quem ofereceu a Sua vida.
Na solenidade de hoje proclamamos que Jesus é Rei, porém, convém recordar o aviso que Ele nos deixou: «O meu reino não é deste mundo»!
Afinal a sua autoridade e o seu poder encontram-se na sua maneira de viver, de se relacionar com as pessoas, de estar próximo dos desamparados e dos sofredores.
Jesus não impõe a sua presença. Jesus não castiga nem condena, nem excomunga nunca ninguém. Jesus apenas convence a quem tem fome de libertação. Ele liberta e fermenta em nós a comunhão e a libertação.

Nós
somos o rosto da Igreja. E cabe-nos a grata tarefa de mostrar aos homens e mulheres deste mundo o rosto amoroso e acolhedor de Deus. É preciso para isso púlpitos e sermões? Não. É bastante que o digamos com a experiência da vida no dia a dia.
E que Deus temos nós experimentado? Sempre que participamos na Eucaristia saímos libertados que libertam, ou o encontro com Ele nada liberta em nós, a nada nos compromete, a nada nos impele? A sua presença clara e luminosa e o seu olhar lavam-nos os olhos a fim de O reconhecermos nos pobres e necessitados? Assim reina Jesus, hoje e sempre! Na medida em que o acreditemos — que acreditemos na maneira sem poder de reinar —, assim nós iremos desvelando a presença do reino salvador de Deus no nosso mundo, mas que, sobretudo, como dizia Jesus, está presente em cada um de nós. Obrigado, ó grande Rei!
Chama do Carmo I NS 45 I 22 Outubro 2009

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