terça-feira, 31 de março de 2009

Rumo à Canonização (V)

IMORTAL

Mas nunca foi que este erro se sentisse
No forte Dom Nuno; mas antes,
Posto que em seus irmãos tão claro o visse,
Reprovando as vontades inconstantes,
Àquelas duvidosas gentes disse,
Com palavras mais duras que elegantes,
A mão na espada, irado e não facundo,
Ameaçando a terra, o mar e o Mundo

Canto IV, estrofe XIV dos Lusíadas

Rumo à Canonização (IV)

«Exemplo heróico em tempo de crise»
Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa
por ocasião da canonização de Nuno Álvares Pereira


1. Nuno Álvares Pereira proclamado santo
A 21 de Fevereiro de 2009, o Papa Bento XVI anunciou a canonização de D. Nuno Álvares Pereira – o já beato Nuno de Santa Maria – para o dia 26 de Abril, junto com outras quatro figuras ilustres da Igreja. Este facto é para Portugal e os portugueses motivo de júbilo e de esperança. Deve também constituir ocasião de reflexão sobre as qualidades e virtudes heróicas desta relevante personagem histórica, digna de ser conhecida e imitada nos dias de hoje.
Nuno Álvares Pereira viveu em tempos difíceis de crise dinástica, com fortes divisões no tecido social e político português, que punham em perigo a própria identidade e independência da Nação.

Os Bispos de Portugal, em nome de todos os católicos do nosso país, desejam exprimir a sua alegria e gratidão pelo reconhecimento oficial da santidade heróica de mais um filho da nossa terra. Ultrapassando a mera saudade do passado e assumindo, com realismo e esperança, o tempo que nos é dado viver, querem ressaltar algumas virtudes heróicas de Nuno Álvares Pereira, cuja imitação ajudará a responder aos desafios do tempo presente. 2. Breves dados biográficos Nascido em 1360, Nuno Álvares Pereira foi educado nos ideais nobres da Cavalaria medieval, no ambiente das ordens militares e depois na corte real. Tal ambiente marcou a sua juventude. As suas qualidades e virtudes impressionaram particularmente o Mestre de Aviz, futuro rei D. João I, que encontrou em D. Nuno o exímio chefe militar, estratega das batalhas dos Atoleiros, de Aljubarrota e Valverde, vencidas mais por mérito das suas virtudes pessoais e da sua táctica militar do que pelo poder bélico dos meios humanos e dos recursos materiais.
Casou com D. Leonor Alvim de quem teve três filhos, sobrevivendo apenas a sua filha Beatriz, que viria a casar com D. Afonso, dando origem à Casa de Bragança. Tendo ficado viúvo muito cedo e estando consolidada a paz, decidiu aprofundar os ideais da Cavalaria e dedicar se mais intensamente aos valores do Evangelho, sobretudo à prática da oração e ao auxílio dos pobres. Assim, pediu para ser admitido como membro da Ordem do Carmo, que conhecera em Moura e apreciara pela sua vida de intensa oração, tomando o profeta Elias e Nossa Senhora como modelos no seguimento de Cristo.

De Moura, no Alentejo, vieram alguns membros da comunidade carmelita, para o novo convento que ele mesmo mandara construir em Lisboa. Em 1422, entra nesta comunidade e, a 15 de Agosto de 1423, professa como simples irmão, encarregado de atender a portaria e ajudar os pobres. Passou então a ser Frei Nuno de Santa Maria. Depois de uma intensa vida de oração e de bem fazer, numa conduta de grande humildade, simplicidade e amor à Virgem Maria e aos pobres, faleceu no convento do Carmo, onde foi sepultado.Logo após a sua morte começou a ser venerado como santo pela piedade popular. As suas virtudes heróicas foram oficialmente reconhecidas pelo Papa Bento XV, que o proclamou beato, em 1918, passando a ter celebração litúrgica a 6 de Novembro.

3. Virtudes e valores afirmados na vida de Nuno Álvares Pereira
D. Nuno Álvares Pereira não é apenas o herói nacional, homem corajoso, austero, coerente, amigo da Pátria e dos pobres, que os cronistas e historiadores nos apresentam. Ele é também um homem santo. A sua coragem heróica em defender a identidade nacional, o seu desprendimento dos bens e amor aos mais necessitados brotavam, como água da fonte, do amor a Cristo e à Igreja. A sua beatificação, nos começos do século XX, apresentou o ao povo de Deus como modelo de santidade e intercessor junto de Deus, a quem se pode recorrer nas tribulações e alegrias da vida.Conscientes de que todos os santos são filhos do seu tempo e devem ser vistos e interpretados com os critérios próprios da sua época, desejamos propor alguns valores evangélicos que pautaram a sua vida e nos parecem de maior relevância e actualidade.

Os ideais da Cavalaria, nos quais se formou D. Nuno, podem agrupar se em três arcos de acção: no plano militar, sobressaem a coragem, a lealdade e a generosidade; no campo religioso, evidenciam se a fidelidade à Igreja, a obediência e a castidade; a nível social, propõem se a cortesia, a humildade e a beneficência. Foram estes valores que impregnaram a personalidade de Nuno Álvares Pereira, em todas as vicissitudes da sua vida, como documentam os seus feitos militares, familiares, sociais e conventuais. Fazia também parte dos ideais da Cavalaria a protecção das viúvas e dos órfãos, assim como o auxílio aos pobres. Em D. Nuno, estes ideais tornaram se virtudes intensamente vividas, tanto no tempo das lides guerreiras como principalmente quando se desprendeu de tudo e professou na Ordem do Carmo. Como porteiro e esmoler da comunidade, acolhia os pobres de Lisboa, que batiam às portas do convento e atendia os com grande humildade e generosidade. Diz-se que teve aqui origem a «sopa dos pobres».

Levado pela sua invulgar humildade, iluminada pela fé, desprendeu se de todos os seus bens – que eram muitos, pois o Rei o tinha recompensado com numerosas comendas – e repartiu os por instituições religiosas e sociais em benefício dos necessitados. Desejoso de seguir radicalmente a Jesus Cristo, optou por uma vida simples e pobre no Convento do Carmo e disponibilizou‐se totalmente para acolher e servir os mais desfavorecidos. Esta foi a última batalha da sua vida. Para ela se preparou com as armas espirituais de que falam a carta aos Efésios (cf. Ef 6, 10 20) e a Regra do Carmo: a couraça da justiça, a espada do Espírito (isto é, a Palavra de Deus), o escudo da fé, a oração, o espírito de serviço para anunciar o Evangelho da paz, a perseverança na prática do bem.

Precisamos de figuras como Nuno Álvares Pereira: íntegras, coerentes, santas, ou seja, amigas de Deus e das suas criaturas, sobretudo das mais débeis. São pessoas como estas que despertam a confiança e o dinamismo da sociedade, que fazem superar e vencer as crises.

4. Apelo à Igreja em Portugal e a todos os homens e mulheres de boa vontade
Ao aproximar-se a data da canonização do beato Nuno Álvares Pereira, pelo Papa Bento XVI, em Roma, alegramo-nos por ver mais um filho da nossa terra elevado às honras dos altares. Algumas peregrinações estão a ser organizadas para marcar a nossa presença na Praça de S. Pedro, na festa da sua canonização, no dia 26 de Abril. Confiamos que outras iniciativas pastorais sejam promovidas para dar a conhecer e propor como modelo o exemplo de virtude heróica que nos deixou este nosso irmão na fé.

A pessoa e acção de Nuno Álvares Pereira são bem conhecidas do povo português. A nível civil, é lembrado em monumentos, praças e instituições; a nível religioso, é celebrado em igrejas, imagens e associações. Figura incontornável da nossa história, importa revitalizar a sua memória e dar a conhecer o seu testemunho de vida. Para além de ser um modelo de santidade, no seguimento radical de Cristo, que «não veio para ser servido mas para servir» (Mt 20, 28), apraz nos pôr em relevo alguns aspectos de particular actualidade, para todos os homens e mulheres de boa vontade:

– Nuno Álvares Pereira foi um homem de Estado, que soube colocar os superiores interesses da Nação acima das suas conveniências, pretensões ou carreira. Fez da sua vida uma missão, correndo todos os riscos para bem servir a Pátria e o povo.

– Em tempo de grave crise nacional, optou corajosamente por ser parte da solução e, numa entrega sem limites, enfrentou com esperança os enormes desafios sociais e políticos da Nação.

– Coroado de glória com as vitórias alcançadas, senhor de imensas terras, despojou se dos seus bens e optou pela radicalidade do seguimento de Cristo, como simples irmão da Ordem dos Carmelitas.

– Não se valeu dos seus títulos de nobreza, prestígio e riqueza, para viver num clima de luxos e grandezas, mas optou por servir preferencialmente os pobres e necessitados do seu tempo.

Vivemos em tempo de crise global, que tem origem num vazio de valores morais. O esbanjamento, a corrupção, a busca imparável do bem estar material, o relativismo que facilita o uso de todos os meios para alcançar os próprios benefícios, geraram um quadro de desemprego, de angústia e de pobreza que ameaçam as bases sobre as quais se organiza a sociedade. Neste contexto, o testemunho de vida de D. Nuno constituirá uma força de mudança em favor da justiça e da fraternidade, da promoção de estilos de vida mais sóbrios e solidários e de iniciativas de partilha de bens. Será também um apelo a uma cidadania exemplarmente vivida e um forte convite à dignificação da vida política como expressão do melhor humanismo ao serviço do bem comum.

Os Bispos de Portugal propõem, portanto, aos homens e mulheres de hoje o exemplo da vida de Nuno Álvares Pereira, pautada pelos valores evangélicos, orientada pelo maior bem de todos, disponível para lutar pelos superiores interesses da Pátria, solícita por servir os mais desprotegidos e pobres. Assim seremos parte activa na construção de uma sociedade mais justa e fraterna que todos desejamos.
Fátima, 6 de Março de 2009

Rumo à Canonização (III)

NUNO ÁLVARES PEREIRA

Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.

Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o Rei Artur te deu.

‘Sperança consumada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!

(Fernando Pessoa)

Rumo à Canonização (II)


D. NUNO ÁLVARES PEREIRA E O CASTELO DE NEIVA (II)

Após a aclamação de D. João I nas cortes de Coimbra, resolveu D. Nuno Álvares Pereira ir em romaria ao túmulo de Santiago de Compostela, aproveitando a peregrinação para se assenhorar de algumas terras, onde a autoridade de D. João I não estivesse ainda reconhecida.
Caminhando pelo litoral em direcção a Viana da Foz do Lima, chegou às fraldas do monte do Castelo ao pôr-do-sol no dia 12 de Abril de 1385.
Depois de cumprir os planos previamente estabelecidos, D. Nuno Álvares Pereira com os seus homens, submeteu o castelo de Neiva cujo alcaide Álvaro Gomes Bacelar havia dado voz por Castela, tal como outros do Minho, tendo sido morto durante a refrega. Álvaro Gomes Bacelar era casado com D. Isabel Lopes Lira, filha do Meirinho mor de entre Douro e Minho e alcaide de Braga e Ponte de Lima. Lopo Gomes de Lira que por sua, vez era irmão do alcaide de Viana.
Segundo Fernão Lopes, era o castelo de Neiva muito forte e bem defendente.
A resistência esperada por D. Nuno Álvares Pereira, ficou reduzida a pouco, pois pouco depois do começo da luta, o alcaide caía mortalmente ferido e a guarnição logo se rendeu.
D. Isabel Lopes de Lira, viúva do governador, pediu ao Santo Contestável que lhe guardasse honra, fazendo-lhe mercê de a mandar entregar a Ponte de Lima onde seu pai, o destemido Meirinho mor da província era alcaide mor.
Acedendo gentilmente ao pedido da castelã viúva, Nuno Álvares Pereira, lembrando-lhe o respeito da sua dignidade e fidalguia, mandou levar a ilustre Dona com respeitosa comitiva até ser entregue ao poder paterno na manhã do dia seguinte. Se a tomada do castelo de Neiva, a primeira desta incursão do santo Condestável pelo Minho, foi rápida e relativamente fácil, já a praça de Viana foi mais difícil e de algumas perdas para as hostes de D. Nuno Álvares Pereira. Sabedores do sucesso, os alcaides dos outros castelos, nomeadamente o de Monção, Vila Nova de Cerveira e Caminha, enviaram-lhe emissários a prestar submissão. Prosseguindo a sua peregrinação a Santiago de Compostela, D. Nuno Álvares Pereira deixou como responsável no castelo de Neiva, Pêro Afonso do Casal com certos homens de armas seguindo a sua viagem com o forte da sua gente.
O simples frade Carmelita, Nuno de Santa Maria, antes o herói e celebrado guerreiro D. Nuno Álvares Pereira, foi beatificado pelo papa Bento XV em 23 de Janeiro de 1918, mas o processo de canonização caíra praticamente no esquecimento. No decurso do oitavo centenário da fundação de Portugal em 1940 foi pedido a sua santidade ao Papa Pio XII, pelo Supremo Magistrado da República e pelo Rev.mo Senhor Cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira, Patriarca de Lisboa, juntamente com os Arcebispos e Bispos de todo o País e pela ínclita Ordem Carmelita, que reassumisse a causa de tão grande herói e se lhe abrisse o caminho para que as supremas honras dos altares lhe fossem conferidas pela Sé Apostólica.
A Sagrada Congregação dos Ritos, deu parecer favorável e no ano seguinte em 28 de Maio de 1941, o Santo Padre autorizou o processo. Para manter a devoção e obter as graças necessárias à sua canonização, foi decidido peregrinar as suas relíquias por todas as sedes dos concelhos, praticamente em todas as cidades e vilas de Portugal.
(Continua)
António Lousa Barbosa

segunda-feira, 30 de março de 2009

Rumo à Canonização (I)

D. NUNO ÁLVARES PEREIRA E O CASTELO DE NEIVA (I)

Segundo reza a história, pressupõe-se que o castelo de Neiva tenha sido uma construção medieval, não se conhecendo com exactidão as suas origens. Alguns historiadores têm chegado à conclusão, que ele teria sido construído para defender o vizinho convento e Mosteiro de S. Romão de Neiva, suas terras, suas gentes das investidas mouriscas ou das incursões piratas do século IX ou X, a exemplo de castelo de Guimarães edificado no século X, com a finalidade de defender o mosteiro e o burgo locais, por iniciativa da condessa D. Mumadona.
É possível que a construção do castelo de Neiva, venha já do tempo do conde D. Henrique, mas a informação que nos parece mais válida é a data de 1127tendo sido algum tempo depois cabeça administrativa e judicial da vasta zona das Terras de Neiva, que reunia em seu torno 54 freguesias, 11coutos e 7 conventos. Foi em 1127, altura em que o futuro rei de Portugal, Afonso Henriques o conquistou à sua mãe juntamente com o castelo de faria nas proximidades de Barcelos que lhe viria a dar apoio, mas foi principalmente o castelo de Neiva, quem desempenhou um papel importante na preparação da batalha de S. Mamede próximo a Guimarães e, 1128.
O castelo de Neiva, tal como outros espalhados pelo Alto Minho, diz Ferreira de Almeida, tinham uma grande densidade e uma significação de mais alta importância e considerados como os mais característicos da Idade Média.
As funções do castelo eram multiformes, nelas se encontravam o refúgio e defesa, administração e justiça, funções essas que viriam a desaparecer no reinado de D. João I em 1385 com a reorganização administrativa do território, em que as freguesias pertencentes ao julgado de Neiva ficaram a depender de novos centros administrativos.
Sabe-se por outro lado, que o castelo de Neiva, terá caído em decadência de forma que o D. Fernando rei de Portugal o mandou reconstruir em 1373.
Em 1385, o reino de Portugal entra em crise com a morte de D. Fernando e nessa altura candidata-se ao trono de Portugal, o rei de Castela, casado com D. Beatriz, filha única de D. Fernando e muitos nobres apoiados por várias fortalezas tomaram o seu partido, entre essas fortalezas se contava o castelo de Neiva pela voz do seu alcaide, Álvaro Gomes Bacelar.
(Continua)
António Lousa Barbosa

domingo, 29 de março de 2009

Família Fernandes, de Joane

Somos uma família grande! Tão grande que nem nos conhecemos todos! De quando em vez entram-nos pela porta ora um ora outro ex-seminarista. É uma alegria para quem recebe, e não é menor para quem chega com gosto de ver, rever, contar e recordar, reatar laços.
Hoje foi o Custório Fernandes, de Joane, Famalicão, antigo aluno dos bons tempos e de boas cepas. Aqui foi aluno juntamente com um primo e o irmão, o saudoso P. Joaquim Fernandes. Trouxe a família, participou na Eucaristia, viu os claustros revoltos, conversou, riu e recordou. Foi uma bela maneira de, juntos, celebrarmos os 390 anos desta casa!
Venham mais, venham mais cinco.

João, Custório e Afonso

— Como se fazem os santos?
— Juntos.

Missa das 11:30

Virginie Carvalho, 21 anos, acólita da Missa das 11:30.

Missa das 10:00

Joana Costa, 17 anos, acólita da Missa das 10:00.
Alfredo Rufo, 29 anos, monitor da Missa das 10:00.

Aprovação do Relatório de Contas do GAF

Num lugar servíamos a Cristo e a Igreja, em retiro e oração. Noutro lugar, um pouco ao lado, servíamos a Cristo e a Igreja cuidando, reflectindo e fortalecendo o GAF que procura cuidar dos mais pobres dos pobres da nossa sociedade. Uns rezando com as mãos ao alto, outros com o coração apertado e dores de cabeça porque a crise aperta, a fome aumenta, os necessitados crescem e o bem querer e o bem fazer nunca são demais. E porque nunca o amor está ocioso jamais a caridade está concluida!
Rezar em retiro e rezar em reunião lendo relatórios, apreciando contas, agradecendo empenho, animando e semeando futuro. A fotografia regista a reunião do Conselho Geral do GAF, o momento de aprovação do Relatório de Contas de 2008.
Foi neste Sábado, na Biblioteca do Convento do Carmo.

As Bem-aventuranças

Para o retiro quaresmal da nossa Comunidade convidámos como pregador o professor José Lima, sacerdote retirado do ministério, e em cujo coração arde forte a fogueira do Espírito. Foram três horas de intensa comunicação, oração e de partilha sobre As Bem-aventuranças. Fosse outro o contexto e poderia dizer-se que é como andar de bicicleta, não se esquece. Mas como é neste, podemos testemunhar que a fidelidade e o amor à Igreja estão engrandecidos e foram servidos para o bem dos irmãos.
Muito obrigado.
A bênção.

Domingo V da Quaresma

Horário das celebrações da Semana Santa

5 Domingo de Ramos na Paixão do Senhor
Em todas as Missas haverá bênção de ramos

6 - 8 Segunda e Quarta-feira Santa
07:30 Oração de Laudes na Capela de S. Miguel Arcanjo
08:00 Missa da Paixão
08:30 Confissões
09:00 Missa da Paixão
09:30 Confissões.

9 Quinta-feita Santa da Ceia do Senhor
08:00 Oração de Laudes na igreja
08:30 Confissões
10:00 Missa Crismal na Sé

18:00 Celebração da Ceia do Senhor
Lava-pés
Procissão do Santíssimo
Adoração do Santíssimo .

10 Sexta-feira Santa da Paixão do Senhor
08:00 Oração de Laudes na igreja
08:30 Exercício espiritual da Via Sacra
09:30 Confissões

18:00 Celebração da Paixão
Narração da Paixão
Adoração da Santa Cruz
Comunhão.

11 Sábado Santo
08:00 Oração de Laudes na igreja
08:30 Confissões

21:30 Vigília da Ressurreição
Bênção do lume novo
Canto do Precónio pascal
Bênção da água
Renovação promessas Baptismo.

12 Domingo de Pascoa
08:00 Missa da Ressurreição
10:00 Missa da Ressurreição
11:30 Missa da Ressurreição
18:00 Missa da Ressurreição.

sábado, 28 de março de 2009

Preparar um retiro

Houve retiro. Foi este sábado. Um retiro começa longe, desde longe. Quem chega ao retiro já vem em retiro, porque já criou tempo e espaço para ele. Hoje, sábado, foi um breve momento de graça para 25 pessoas que estiveram em retiro e para os demais que o preparámos e dele cuidamos. Aqui fica o exemplo da Paula e da Verónica, que, entre outros, ajudaram a prepará-lo. O bom êxito deve-se-lhes. Obrigado.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Dias de luz

Há dias assim. Dias de arte e de artistas. Dias em que os olhos olham melhor porque as inquietações dum artista iluminam e enchem de gozo o comum dos dias e o pó e as pérolas da história. Foi o caso desta Quinta-feira. O galerista António Branco e esposa e o artista Damião Porto visitaram-nos. E a visita iluminou-nos. E nós abençoá-mo-los!
Amen.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Homens escuros e sem luz

Existem homens luz e homens sombra. São mais os segundos. É bem certo que o mundo não gosta da Luz, porque a Luz denuncia as sombras e as escuridões de quem se diz iluminado e é só noite.
Quem faz as obras da luz aproxima-se da Luz para que sejam vistas.
Quem faz as das sombras, foge e oculta-se defendendo-se na escuridão.
Dão-se a seguir quatro exemplos de homens sombra e noite, que em diferentes épocas expulsaram a Luz, até que, por fim, Ela os alcançou, os iluminou, os seduziu, os incandesceu.
São quatro histórias simples que mostram que, por vezes a Luz é mais forte e vence.
Diz-se que quando encontramos uma pérola valiosa nos empenhamos de veras em adquiri-la.
Foi isso que fizeram os quatro exemplos que damos (haveria muitos outros) e é isso que havemos de fazer nós também, porque também nós somos luz, pertencemos à Luz, e não à sombra ou à noite!

Agostinho
Metade da sua vida foi caminho de escuridão. Não lhe faltaram oportunidades para caminhar na Luz... A mãe tentou educá-lo o melhor possível, mas ele não escutava a mãe. Um grande amigo seu estando em perigo de morte disse-lhe que estava a preparar-se para receber o Baptismo, mas ele riu-se do amigo. Teve a Bíblia na mão e poderia ter lido algo, mas pareceu-lhe um livro feito para gente de pouco cultura.
Caminhou 32 anos nas trevas, numa busca contínua até alcançar a Luz que, sem saber buscava mal: buscou-A nas tabernas, na seita dos maniqueus, na libertinagem, no jogo, nas discussões, na filosofia. Queria ser feliz mas não era, tudo era escuridão. Um dia contemplando um bêbado teve inveja dele: ao menos o bêbado ainda se ria.
Mas como não parava de buscar foi alcançado pela Luz e a sua vida iluminou-se e mudou de rumo. Chama-se Agostinho, Agostinho de Hipona, é o grande S. Agostinho!

André
Era nobre de nascimento, não de vida. Quem com os lobos anda com eles aprende a uivar e caçar. A sua vida de menino rico e mimado era exclusivamente dedicada à caça, aos jogos e aos amores. A da mãe, a chorar e a rezar na Igreja do Carmo da cidade. Não lhe faltaram os bons exemplos e modelos, mas ele preferia os maus, os prazeres e os vícios.
«Lobo feroz te vi eu em sonhos antes de nasceres», gritou-lhe, desesperada, a mãe certa vez. E aí o rapaz converteu-se. A mãe deixou de precisar de ir à igreja para chorar e rezar, mas passou a ir o filho.
Quando no palácio anunciou que se faria Carmelita a mãe declarou: «O meu filho será sempre louco, mas eu prefiro esta loucura.» Foi Carmelita, um grande Carmelita. Abandonado o luxo e a vida louca revestiu-se com um pobre hábito remendado. Foi depois um grande bispo construtor de paz. Chama-se S. André Corsini.

Hermann [Agostinho]
Era judeu. Aprendeu piano aos 4 anos, foi o aluno preferido de Liszt. Em Paris iniciou uma carreira brilhante como pianista, professor e compositor. Foi amigo dos mais famosos anticatólicos do seu tempo. Frequentou os salões da aristocracia da Europa, ganhava imenso dinheiro e perdia-o copiosamente no jogo. Mergulhou em todos os vícios. E quase se afogou. Aos 28 anos inicia a sua iluminação quando, a pedido do princípe de Moscovo, toma provisoriamente a direcção do coro da sua capela particular. Não sendo crente sente uma comoção particular durante a bênção do Santíssimo. O sentimento repete-se a cada Sexta-feira. Converte-se — Os amigos dizem-no transtornado pelos excessos! —, baptiza-se e faz-se Carmelita. O Frei Agostinho do Santíssimo Sacramento é o fundador da Adoração Nocturna.

João
É português. Afoito, fugiu de casa aos oito anos, sem dinheiro nem qualquer outro apoio. A mãe morreu de desgosto com a notícia. O pai morreu mais tarde também desgostoso, num convento.
Quando a negrura da fome e do frio apertaram foi pastar gansos, depois cabras, por fim vacas. Mas a vida de armas era mais aventureira e apelativa que a de pastor. E com uma espada na mão era um terror temido!
Desertou do exército e quase deixou a cabeça na forca. Serviu um nobre português exilado da fortuna, fundou uma livraria, e nunca deixou, ao que parece de ser devoto de Nossa Senhora. Até nada da sua vida fora especialmente belo e exaltante. Um dia ouvindo um sermão decidiu mudar de vida: ofereceu os livros bons, queimou os maus. Prenderam-no por isso, porque parecia louco! Soltaram-no. Quando em Granada ardeu o Hospital Real a cidade ficou impotente a apreciar o espectáculo. Só o Louco rompeu as chamas e salvou todos os doentes acamados. Deixou ali de ser o Louco para passar a ser o Santo. Deu o resto da sua vida aos pobres, aos doentes e aos inválidos. Muitos o imitaram, chama-se São João de Deus.

Estes e outros muitos e muitas viveram no reino das trevas, mas fizeram a passagem para o da Luz. Convenceram-se que eram grandes e não passavam de míseros vassalos. Quando escolheram ser vassalos foram grandes e encheram o mundo de Luz!
Chama do Carmo I NS 23 I 21 de Março de 2009

Cruz da Família Marques

Cruz da Família Marques, Fernando e Estrela, que presidiu à Missa das 10:00h do Quarto Domingo da Quaresma, dia 21 de Março.

domingo, 22 de março de 2009

Um casal de apóstolos

O Mário e a Rosa são da Paróquia de Caramos, Felgueiras. São um casal de apóstolos. Conheceram-se quando eram catequistas, casaram e depois de casados sempre encontraram tempo para a família e para a Igreja, pois cada um é responsável por um grupo de catequese da sua Paróquia.
E não são catequistas conformados ou de desistir. Gostam de inovar, atrair, interessar e empenhar os catequizandos. Por isso, neste Domingo visitaram o nosso Centro de Espiritualidade de Nossa Senhora do Carmo para futuramente aqui organizaram uma acção catequética atraente e diversa, que possa interessar os miúdos.
E nós enchemo-los de mais coragem ainda.
Parabéns! Sigam em frente!

Em família

O Sr. Vítor e a Dª Augusta são da nossa Comunidade do Menino Jesus de Avessadas. Ali são cantores e leitores. Mas hoje foi dia de visitarem a Casa da Mãe e vieram até Viana do Castelo mostrar a Cidade e o Convento ao filho Jorge e futura nora Gabi. Percorreram a cidade e rumaram ao Baixo Minho com a promessa de que os noivos regressem este ano, aquando da lua de mel. Obrigado pela notícia e parabéns pela opção!

E serão sempre bem-vindos.

O Sr. José Alberto e a Dª Fernanda são do Carmo de Aveiro. No dia de São José estiveram de visita à nossa Comunidade e passaram aqui um bom bocado. Mataram saudades e regressaram pelo mesmo caminho com a promessa de voltarem outro dia.
E serão sempre bem-vindos.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Ala dos Enamorados

No dia 26 de Abril, em Roma, a Igreja Universal pela voz do Santo Padre Bento XVI vai proclamar Santo o B. Nuno de Santa Maria. A voz, o coração e a fé do do povo português há muito que lhe chamam o Santo Condestável, agora, porém, será toda a Igreja a reconhecê-lo como Santo. Obviamente que para nós esse dia será jubiloso.
Obviamente estamos já a trabalhar para dar um pouco de brilho ao dia. Hoje reuniu-se A Ala dos Enamorados criada um pouco ao jeito da Ala dos Namorados, que o Santo criou para a Batalha de Aljubarrota. A verdade é que, ontem como hoje, para grandes trabalhos são precisos grandes desejos. E aqui está quem os tem. (Pelo menos no nome!)
E já ficou dito que o dia 25 de Abril será marcado com uma marcha até ao Monte do Castelo, em Castelo do Neiva, onde rezam as memórias locais ter o Santo ali travado combate. Quando? Contra quem? Lenda? Verdade? É o que iremos averiguar. Mas já pode ir reservando esse dia para essa caminhada!

quinta-feira, 19 de março de 2009

Domingo IV da Quaresma

Consagração a São José

Ó Glorioso Patriarca São José,
eis-me aqui, prostrado de joelhos ante vossa presença,
para vos pedir a vossa proteção.
Desde já vos elejo como meu pai, protector e guia.
Sob vosso amparo ponho meu corpo e minha alma,
propriedade, vida e saúde.
Aceitai-me como filho vosso.
Preservai-me de todos os perigos, ataques e laços do inimigo.
Assisti-me em todo momento
e sobre tudo na hora de minha morte.
Amen.

domingo, 15 de março de 2009

Os três magos de Argoncilhe

O Brito, a Iolanda e o netinho João vieram de Argoncilhe à Missa do Carmo, «porque precisam de renovar e alimentar a fé em Jesus, pois é dEle que recebemos a força que precisamos». Assim seja sempre, amen.

A Cruz da Ana Maria

A Cruz da Ana Maria LIma de Sousa presidiu hoje à nossa Missa das 10:00, que contou com a bela e orante presença dos nossos seminaristas diocesanos.

A Visita do Seminário Diocesano

A Igreja diocesana, por sua parte, destina desde já à Cáritas diocesana a maior parte da «renúncia quaresmal» do corrente ano, reforçando o seu habitual orçamento, para que esta possa atender às situações mais prementes. Apenas um terço será destinado à manutenção dos Seminários diocesanos, suavizando assim os encargos económicos dos pais dos nossos alunos.
(Da Nota Pastoral de D. José Augusto Pedreira)
Na manhã deste Domingo Terceiro da Quaresma, um pouco antes da Missa das 10:00h, entrou-nos pela Sacristia adentro o P. Arcélio Sousa, Perfeito do Seminário Diocesano Frei Bartolomeu dos Mártires e os seus 17 seminaristas. Connosco rezaram a Eucaristia e fizeram penitência pelos pecados da Igreja. Apresentaram-se à comunidade e cantaram os cânticos que o Grupo Coral propôs. No fim, para memória futura, tiraram uma fotografia nas escados do Seminário Missionário Carmelitano. Muito obrigado pela visita e pela vossa oração. Deus vos abençoe e o manto da Senhora do Carmo vos proteja.

sábado, 14 de março de 2009

No Domingo da Caridade

Diariamente estamos a ser confrontados e intimamente tocados pela preocupante situação económica e social em que Portugal e outros países ocidentais se encontram mergulhados. Todos nos sentimos envolvidos por este fenómeno de carácter cada vez mais global. Multiplicam-se as análises elaboradas por especialistas na matéria, frequentes sinais de alerta, arriscam-se previsões a curto e médio prazo, mais ou menos pessimistas sobre o futuro.
A perspectiva cristã nestas situações deve ser encarada com serenidade e alicerçada sobre a dinâmica da esperança, capaz de mobilizar um esforço generoso e colectivo em favor dos cidadãos afectados pela crise, na convicção de que depois da tempestade virá a bonança. Entretanto, porém, não podemos cruzar os braços ou encolher os ombros, na expectativa de que a crise não nos atinja. Urge agir porque há vítimas que solicitam auxílio.
Estamos conscientes de que a procura de soluções políticas para ultrapassar este complexo problema incumbe prioritariamente aos poderes públicos, aos governantes legitimamente mandatados para promover e administrar o bem comum, com equidade ética, justiça e paz. A eles compete acompanhar com atenção e sabedoria o evoluir das comunidades a que presidem, particularmente nos momentos mais difíceis, consagrando singular cuidado às parcelas mais frágeis da população. Nesta tarefa, os governantes são coadjuvados pelas instituições que deles dependem, particularmente pelas que actuam nesta área social.
A Igreja e os cristãos que a constituem, em razão da sua missão e competência, não podem ficar alheios a este fenómeno social. É verdade que a Igreja não se confunde com o poder político. Mas, no respeito pela independência e autonomia própria de cada um, sente que ambos servem a vocação pessoal e social dos mesmos seres humanos. Por isso, está sempre disponível para empreender uma sã cooperação, que se afigura condição essencial para se obter maior eficácia no serviço que se presta ao bem de todos (cf. GS. 76). Não se exclui, antes se requerer igualmente o contributo de todos os cidadãos, nomeadamente dos trabalhadores e empresários afectos à promoção e segurança no campo do trabalho.
A comunidade cristã e as instituições de que dispõe sabem que nada que toque com os diversos aspectos da vida do ser humano, no âmbito material como no espiritual, nos pode ser alheio. Basta recordar a função emblemática desempenhada através dos séculos pelas misericórdias, orfanatos, asilos ou lares de idosos, os apoios em momentos de epidemias e de catástrofes, que deixaram na história marcas indeléveis do génio do cristianismo.
As questões sociais têm merecido a atenção da Igreja através dos tempos, com particular acuidade a partir do papa Leão XIII com a carta encíclica “Rerum Novarum 1891”. Desde então, têm sido frequentes as tomadas de posição da Igreja sobre problemas de ordem social como este que estamos a viver.
No nosso tempo, é clara a posição assumida pelo C. Vat. II: «As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração» (GS. 1). Muito antes, nos primeiros séculos do cristianismo, já S.to Ireneu tinha afirmado: «A glória de Deus é o homem vivo».
Consciente dessa missão, no início desta Quaresma, o bispo desta diocese de Viana do Castelo dirige a todos os diocesanos uma sentida exortação, um vivo apelo, a darmos as mãos a fim de empreender uma ajuda solidária e fraterna às vítimas desta recessão económica. A todas as instituições diocesanas encorajamos a que estejam preparadas e cada vez mais atentas às situações criadas pela actual crise e às consequências funestas dela emergentes.
Tendo como base os estudos que vão sendo publicados, afigura-se-nos que as faixas mais vulneráveis da sociedade são: os desempregados ou em risco de o serem; as famílias monoparentais perante o risco de perda do emprego, único braço de sustento da família; os reformados com magras pensões sociais, os idosos que não acompanharam o aumento do nível de vida verificado nas últimas décadas, os jovens à procura do primeiro emprego e as populações imigrantes em busca de trabalho, agora ainda mais escasso. Especial atenção devem merecer-nos as famílias com crianças ou jovens em idade escolar.

Este nosso apelo dirige-se prioritariamente a todas e cada uma das paróquias e outras comunidades cristãs, que não deixarão de o ter em conta nos seus projectos e orçamentos, nomeadamente na moderação de gastos dispensáveis na programação das festas religiosas e outros eventos, a fim de alargar a sua capacidade de auxílio; às Cáritas diocesana e paroquiais, às Misericórdias e respectivas instituições, às Conferências Vicentinas e outras associações de fiéis com notório e reconhecido empenho neste serviço humanitário e de solidariedade cristã.
Papel relevante poderão vir a desempenhar também os Centros Sociais Paroquiais pela relação de proximidade que os caracteriza, pela implantação de que beneficiam dentro das mesmas comunidades e pelo largo saber adquirido na já longa experiência de serviço aos mais carenciados. Para isso, deverão poder contar com o generoso contributo individual de todos e cada um dos fiéis.
Aqueles que presidem a estas ou a outras instituições similares, bem como os que delas fazem parte pela sua partilha de bens, descobrirão a melhor forma de prestar este serviço aos cidadãos atingidos pela presente crise. Hoje, as instituições de apoio social utilizam novos métodos na prestação de serviços, podem dispor de adicionais meios materiais e acrescida qualidade de condições técnicas, o que lhes permitirá alargar o âmbito da sua actuação e atingir um nível cada vez mais elevado de humanização dos serviços prestados. A capacidade criativa, “a fantasia da caridade”, deve estar sempre presente no horizonte dos objectivos a atingir, em ordem à qualidade e delicadeza de trato nos serviços de atendimento à pessoa em situação de carência.
Estamos prestes a iniciar o tempo da Quaresma, tempo de reflexão cristã, de renovação espiritual, de purificação e de partilha fraterna, significadas pelo jejum, abstinência e esmola. A Igreja diocesana, por sua parte, destina desde já à Cáritas diocesana a maior parte da «renúncia quaresmal» do corrente ano, reforçando o seu habitual orçamento, para que esta possa atender às situações mais prementes. Apenas um terço será destinado à manutenção dos Seminários diocesanos, suavizando assim os encargos económicos dos pais dos nossos alunos.
É com muita esperança que levamos até vós, em forma de Mensagem Pastoral, esta preocupação de amor fraterno. Os irmãos carentes agradecem e Deus vos retribuirá “cem por um”.
No dia litúrgico de S. Teotónio, Viana do Castelo, 18 de Fevereiro de 2009.
+ José Augusto Pedreira, Bispo de Viana do Castelo

Comerciar com Deus

Que as palavras se gastam sabemo-lo nós e sabemo-lo melhor quanto mais o silêncio nos vai fraguando e recompondo. Comerciar é uma palavra gasta e mais que gasta, em desuso.
O comércio é feito de tantas ilusões e enganos que associá-lo ao divino é rebaixar a Deus. Nós comerciamos, mas a mercadoria hoje é tanto de usar e deitar fora que o comércio, no conjunto das tarefas humanas, parece uma obra menor ou baixa.
Mas o certo é que os grandes autores espirituais, inspirando-se como sempre nas realidades ordinárias e comezinhas da vida, falam do comércio da pessoa com Deus para dizer o diálogo e a troca que há de nós para Deus, entre Deus e nós, e vice versa. Comerciar com Deus pode querer dizer, por exemplo: dialogar com Deus, dar e receber de e a Deus.
O relato do Evangelho deste domingo é duro e choca-nos. Choca-nos por vermos o doce Jesus naqueles preparos, e tomado de ira. (Ainda que talvez fosse santa, pensam os mais santos de nós!) Como foi possível que Jesus tenha feito o que fez? Visto que falou de amor ao próximo e de nos tratarmos como irmãos, como é que actuou tão violentamente, mais parecendo um descontrolado agitador social?
Não é aprazível nem pacificador ler o relato da expulsão dos vendedores do Templo.
(A piedade popular chama-lhe vendilhões!). Onde está o sempre doce e misericordioso Jesus? Talvez o problema não seja de Jesus. Talvez o problema esteja nos vendedores e não em Jesus. Mas afinal, que mal, se mal fizeram, que mal fizeram eles, que mal justificaria a actuação iracunda do Salvador?
Sim, o problema está nos vendedores, e quem sabe, também em nós. É por isso que este trecho do Evangelho é lido na Quaresma, a fim de reorientarmos o nosso comércio com Deus.
Os vendedores do Templo eram um conjunto de comerciantes que englobavam cambistas (pois ao Templo afluiam pessoas vindas de muitas nações) e vendedores de animais: passarinhos, pombas e rolas, cordeiros, cabritos, touros. O seu comércio redundou no aproveitamento do culto a Deus para alcançar um enriquecimento pessoal injusto. (A liturgia do Templo implicava a oferta e imolação de animais a Deus.) Por isso, a reacção de Jesus é contra o comércio feito à sombra de Deus, que convida mais aos sacrifícios (imolação) de animais, que à conversão do coração do peregrino (e hoje, o nosso).
O mais certo é que Jesus soubesse que muitos dos seus contemporâneos buscavam a Deus em todos os sítios, menos dentro do seu coração. Jesus sabia que o mais fácil é o cumprimento do ritual externo, e que o mais esquecido e desprezado é a conversão do coração.
Choca-nos a indignação de Jesus? Então, cuidado! Porque também é possível que ainda hoje, nós, os crentes, continuemos a viver uma fé pouco séria e à margem da conversão a Deus e aos seus critérios de justiça e amor. Choca-nos a ideia de comerciar com Deus? Então, cuidado! Porque ainda hoje é muito frequente a fé-comércio: — Eu dou orações, Tu, ó Deus, dás-me tal e qual, o que te pedir!
São muitas as situações que nos reforçam a ideia deste comércio religioso: oferecer algo a Deus em troca do que Lhe peço; zangar-me com Ele se não me ouvir; fazer-lhe promessas se Ele consentir nos nossos pedidos (não vá Ele dizer que não!).
Mandou outrora Deus dizer pelo Profeta que quer «misericórdia e não sacrifícios», porque o que Deus deseja em verdade é um coração novo, humano humano, que não se mova por interesses, mas por amor desinteressado a Deus e aos irmãos; e onde Ele possa habitar.
Eis a troca comercial que Deus espera de nós!
Continuação de Santa Quaresma.
Chama do Carmo I NS 22 I 15 de Março de 2009

Domingo III da Quaresma

quinta-feira, 12 de março de 2009

Faleceu o Prof. Moreira

Nos idos de 70, talvez um pouco mais, o Professor Moreira — Fernando José Moreira — leccionou a discíplina de Português no nosso Seminário do Carmo, ao tempo que aqui havia aulas internas.
Os seus alunos, entre os quais o P. Carlos Gonçalves, guardam dele grata memória.
Era natural de Macedo de Cavaleiros. Faleceu aos 82 anos de idade, na passada Terça-feira, dia 10. A Comunidade do Carmo apresenta à sua esposa Dª Maria Eduarda e a seus filhos e netos sentidas condolências.
Celebraremos Missa de 7º Dia pela sua alma, às 08:00h da próxima Segunda-feira, dia 16 de Março.
Descanse em paz.

segunda-feira, 9 de março de 2009

A incomparável paciência de procurar o alto! - O lugar do jovem na Igreja e na sociedade

O primeiro fim de semana de março costuma ser passado num convento. Foi o caso deste anos. Éramos uns vinte e tais, vindos de vários lugares para parar e reflectir um pouco sobre os jovens (n)o Carmo. Qual é o lugar da Juventude no Carmo? Suficiente? Querem mais? Não sabem pedir mais? Apresentamos aqui a reflexão do Jorge Teixeira que teve o bom gosto de a escrever. É um pequeno conteúdo sobre o tempo, o modo e o lugar dos jovens no Carmo. É uma abordagem. Não a última, nem a melhor. Mas é sincera e é confirmada pela experiência pesssoal, que os restantes confirmaram com o seu silêncio e atenção.
1. Introdução
Ao longo desta apresentação procurarei mostrar a importância dos jovens na Igreja Católica e na sociedade civil. O seu papel e a sua missão e, principalmente, os desafios que lhe são colocados nos dias de hoje.
Para isso começarei por fazer uma breve contextualização da situação actual do religioso e da Igreja Católica, principalmente a nível histórico-social.

2. A situação actual do religioso
A partir da modernidade (Iluminismo - século XVIII) muitos esperavam que a religião fosse expulsa das sociedades e remetida para a memória. O que não veio a suceder.
O religioso sofreu, no entanto, a partir desta época inúmeras alterações.
Na verdade, passou a procurar-se mais a salvação a nível individual, desvalorizando-se a pertença a uma comunidade. Desde logo, este aspecto implica consequências na forma como os jovens se relacionam com o religioso, provocando um "fosso que separa cada vez mais as gerações recentes e as instituições religiosas." A colectividade – Igreja – passou a estar presente quase só nos ritos de passagem (nascimento, casamento e morte).
No entanto, não podemos afirmar que o religioso está em crise. As pessoas continuam a procurá-lo, continuam a buscar respostas no transcendente. Aliás, o religioso tornou-se num "negócio" forte, que traz consigo um poderoso marketing, senão vejamos, como exemplo, as ciências do oculto, os livros de auto-ajuda e as clínicas de espiritualidade.
A Europa onde vivemos é, hoje cada vez mais, uma sociedade multi-cultural e inter-religiosa, onde a liberdade religiosa deve/tem de imperar. Vigorando a laicidade, não podemos também deixar de constatar que, como referia o Papa João Paulo II, a Europa é incompreensível sem o Cristianismo, este é nas palavras do referido Papa, a "alma da Europa", sendo os valores cristãos património universal.
Perante este quadro, qual o lugar do jovem?
Seguir a opinião mais ou menos instituída de que o religioso está fora de moda? Remeter a sua fé para um espaço privado (a sua casa, a sua igreja paroquial)?
Ou deverá, por outro lado, assumir-se como cristão em todas as vertentes da sua vida, respeitando, obviamente o espaço e as decisões das outras pessoas?
Notas: este texto segue de perto aquele que foi apresentado à reflexão no Encontro de (In) formação em Viana do Castelo, no dia 28 de Fevereiro. É uma reflexão despretensiosa, mas que pretende, de forma crítica, ser construtiva. O título do texto é retirado de um poema de Daniel Faria.
Bibliografia: Teixeira, Alfredo, Não Sabemos Já Donde a Luz Mana – Ensaio Sobre as Identidades Religiosas, Paulinas, Prior Velho, 2004.

3. A juventude
A imagem que se tem da juventude é de um grupo que se impõe pelo incumprimento e pelo desrespeito. Os jovens são aqueles que vão contra o imposto, muitas vezes, segundo a opinião dos mais velhos, passando por cima de valores que até então pareciam tidos como certos.
Certo é que a juventude é uma fase curta (em termos cronológicos) das nossas vidas e que por isso deve ser valorizada e é sempre significativa. Nesta fase as experiências devem ser marcantes e construtoras de sentido.
Actualmente: seremos, de facto, um grupo que perdeu os valores e que se deixa guiar como alguém que não tem rumo? Perdemos os valores que vinham dos nossos antepassados? Vivemos a angústia de não saber para onde caminhamos e como o fazemos?
Perante este cenário onde se encaixam os jovens católicos? Qual a atitude: lutar, empenhar-se ou resignar-se?

4. O lugar do jovem na Igreja Católica
4.1. Situação actual; desafios e anseios
Deus é a nossa
mulher-a-dias
que nos dá prendas
que deitamos fora
como a fé
porque achamos
que é pirosa.
(Adília Lopes)
Globalmente, julgo que podemos afirmar que os jovens sabem que têm lugar na Igreja, uma vez que todos são recebidos nela e há lugar para eles.
Também sabemos que, actualmente, muitos não querem a Igreja. A questão que se levanta é porque não a querem?
Ser religioso e mais ser católico é algo que não está na moda, que não dá gozo imediato. O religioso é, portanto, olhado de lado. Para além disto, parece-me que os jovens estão cansados da rotina, da repetição, de saberem (ou julgarem) que sempre virá mais do mesmo (muitos que frequentaram a Igreja deixaram de o fazer, mesmo sendo de famílias católicas). Para além destes aspectos, destacaria a moral sexual como algo que, não sendo cumprido por muitos católicos, continua a ser uma das "bandeiras" pela qual os jovens afirmam afastar-se.
Quanto aos jovens católicos, julgo que é preciso não esquecermos que não basta dizer que são amados, é necessário que os jovens sintam esse amor. Os documentos oficiais apontam para a importância dos jovens, mas depois nas dioceses e na vida paroquial, os jovens não são tidos como uma voz importante, ainda que sejam obviamente inexperientes.
Na verdade, não podemos de deixar de considerar que o modelo apresentado sofre de algum desgaste. Perante todas as mudanças que sofre o mundo é imperativo que a Igreja seja capaz de fazer uma leitura profética dos tempos e acompanhe este processo. Estão também cansados das "lições moralistas" que saem da catequese e das homilias. A liturgia é, pois, um dos campos a necessitar de maior capacidade de resposta às necessidades actuais. As celebrações são rotineiras, sem capacidade de surpreender, sem provocar emoção. Para além disto, não temos capacidade de fazer uma releitura diferente dos textos bíblicos e o cântico é pobre e distante da linguagem juvenil.
Depois, há a questão do acompanhamento dos jovens. Continuamos, como Igreja, a valorizar quase só a catequese de iniciação e de adolescência, o que leva a que após o Crisma (diploma da catequese?), os jovens (salvo dignas excepções) sejam deixados sem acompanhamento. A formação dos jovens termina e passam de adolescentes a adultos na fé (seres autónomos e sem necessidade de acompanhamento). Parece-me necessário que exista um acompanhamento efectivo dos jovens, seja ao nível dos secretariados diocesanos da juventude seja a nível paroquial, dando uma formação séria e coerente aos jovens interessados. Não podemos continuar a ter uma fé de "hipermercado". Temos de promover nos jovens uma fé intelectualmente honesta (e não uma fé cega), que promova uma adesão de coração.
No meio de tudo isto será possível pedir a colaboração dos jovens se só se lhes pede adaptação ao que já existe sem procurar receber o que trazem de bom, sem aproveitar a sua alegria, a sua esperança e o seu dinamismo?
É, neste momento portanto, imperativo que haja na Igreja abertura de mentalidade. E esta abertura tem de ser de todos: desde os bispos, aos padres, aos leigos e, claro, aos próprios jovens.
Não podemos esquecer que a Igreja não é a hierarquia (bispos e padres), mas também são os leigos e, portanto, os jovens.
Não se trata, no entanto, de inventar um novo modelo. A Tradição não pode, obviamente, ser esquecida ou julgada incompetente. Há, antes, a necessidade de renovar, bebendo continuamente na fonte (não esquecendo que a fonte primeira são os Evangelhos e a Sagrada Escritura).
Aos jovens pede-se, desde logo, que tragam à Igreja o dinamismo que lhes é inerente. Sem os jovens a sociedade e, consequentemente, a Igreja seriam muito pacíficas, mas esta paz estaria marcada pela morte, já que não haveria também o crescimento e as mudanças necessárias. A igreja e o mundo precisa que os jovens clamem a sua fé, mas os jovens precisam que os cristãos mais velhos os apoiem, confortem, ensinem e incentivem.
É urgente desde logo que a Igreja busque, de facto, novas linguagens. Mas não basta afirmá-lo, é necessário, fazê-lo efectivamente.
De facto, notámos que houve investimento desde há algum tempo em actividades de intensidade emocional, porque estas se tornam significativas para os jovens e são este tipo de actividades que marcam e os acompanham ao longo da vida de forma especial. São exemplos disto que afirmo, as Jornadas da Juventude e as peregrinações a Taizé.
Outro aspecto que considero relevante é o dever de promovermos um maior diálogo com as artes. A Igreja não pode continuar arredada da proximidade com as artes. Não pode continuar a ter desconfiança em relação à arte e aos artistas, que são os grandes produtores de ideias. Não podemos continuar a ter igrejas e esculturas que não primam pela beleza. Porque repetimos as imagens até ao limite e não procuramos novas formas de comunicar?
Há ainda a acrescentar a relação de proximidade que os jovens têm com a arte. A música, o teatro, a pintura, a literatura têm com muitos jovens uma relação muito contígua.
A arte não é inútil, transporta-nos para outra dimensão, coloca-nos perante o escândalo, a provação e o abismo. A arte, um pouco como os místicos, leva a um arrebatamento. A experiencia estética torna-se uma experiência-limite, e a beleza entra pelos sentidos.
Em relação à arte gostaria de referir um caso actual: Tiago Guillul, que é músico e também pastor baptista na Igreja de São Domingos de Benfica (religião e panque roque é o lema do seu blogue). Na verdade, editou um álbum que não deixa de ser de índole religiosa e que obteve ecos em muita comunicação social e em muitos artistas. A música pode ser uma das artes a explorar mais como forma de comunicação com os jovens e como forma de evangelização.
Há ainda outros campos onde o papel dos jovens pode e deve ser valorizado. Enumero alguns deles: o voluntariado, os grupos de jovens, os grupos católicos universitários, entre outros.

4.2. Ordem dos Padres Carmelitas Descalços
e o Movimento Carmo Jovem
"A Igreja tem tantas coisas belas a dizer e a mostrar ao mundo: não só pelo seu património artístico (...). Para citar só dois, Francisco de Assis com o seu cântico ao irmão Sol e S. João da Cruz com os seus poemas. O belo tem tudo a ver com o bem. O belo pode realizar a síntese do verdadeiro e do bem." (Cardeal Daneels).
Há, portanto, um património que deve ser dado a conhecer aos jovens.
O Carmo Jovem foi um espaço encontrado pela Ordem para dar relevo ao papel dos jovens e para lhe dar espaço de crescimento na fé.
O Movimento procura abranger jovens de várias idades e de várias zonas geográficas de Portugal. Refira-se ainda a autonomia construtiva que o Movimento tem perante a Ordem. Esta liberdade responsável permite um crescimento saudável. Destacaria, brevemente, duas ideias: o facto de muitas das actividades serem, de facto, significativas e perdurarem como momentos de carminho para sempre na memória de muitos jovens (recordo, por exemplo, o Acampaki, a Clarminhada) e a aproximação feita pelos religiosos, por falarem, com palavras e gestos, uma linguagem juvenil.

5. O lugar do jovem na sociedade civil
Os jovens católicos não podem esquecer que são jovens no mundo e do mundo que não esquecem o caminho: Jesus. Por isso, em todos os locais devem apresentar uma vida de autenticidade e de testemunho. Respeitando o outro enquanto ser crente ou não, o jovem católico deverá assumir-se enquanto tal, reafirmando a sua fé como uma decisão pessoal que compromete toda a vida.
Por tudo isto, julgo que o jovem católico não se também pode excluir da vida civil. Assim, deve ser, por exemplo, politicamente interessado.

6. Conclusão
"É próprio da condição humana e, particularmente, da juventude buscar o Absoluto, o sentido e a plenitude da existência. Amados jovens, não vos contenteis com nada menos do que os mais altos ideais! Não vos deixeis desanimar por aqueles que, desiludidos da vida, se tornaram surdos aos anseios mais profundos e autênticos do seu coração. Tendes razão para não vos resignardes com diversões insípidas, modas passageiras e projectos redutivos. Se mantiverdes com ardor os vossos anelos pelo Senhor, sabereis evitar a mediocridade e o conformismo, tão espalhados na nossa sociedade." (João Paulo II)
Jorge Teixeira
Presidente do Movimento do Carmo Jovem
1 de Março de 2009, Convento do Carmo de Viana do Castelo

domingo, 8 de março de 2009

Cruz da Família Soares

Cruz da família da Maria do Carmo e Laureano Soares, que presidiu à Eucaristia das 10:00h, do Segundo Domingo da Quaresma, no 8 de Março.

sábado, 7 de março de 2009

Mestre Sopas

— É para a Internet?, perguntou como se pedisse. (Não era, mas como acabara de bem lembrar...)
Um dos segredos mais bem guardados do nosso convento está na cozinha. (bolas, acabei de revelá-lo...) Melhor dito, está nas mãos do sr. Elias, aqui no blog: Mestre Sopas. Se não soubesse fazer mais nada valeriam as sopas, que bem valem uma visita a Viana ainda que seja vir do outro mundo. O homem é diplomado em cozinha conventual, não põe sal, e no geral, cozinha como quem reza salmos. Bem merece lugar aqui no blog.

Um problema de escuta, não de ouvidos

Os investigadores duma universidade inglesa publicitaram um recente estudo linguístico que tem a sua curiosidade, a de se saber quais teriam sido as primeiras palavras da língua inglesa e quais seriam as que nos próximos tempos mais rapidamente cairiam em desuso.
A linguagem tem o seu quê. Afinal de contas é pela palavra que comunicamos, dizemos sentimentos e preços, estados de alma e damos ordens, dizemos afectos e construímos ciência, seguramos aviões no ar e os navios vogam os mares, lançamos uma criança ao mundo e dizemos a beleza e a salvação. Se as palavras desaparecem é porque desaparece o campo em que são semeadas e dali já não seja previsível colher frutos ou tirar proveitos. Neste Domingo, a voz do Pai diz-nos: Escutai!

Medo de escutar
Temos medo de escutar. E mais medo ainda do silêncio. Nenhum homem como o de hoje escutou tanto; ninguém, desde as origens, disse ou ouviu tantas palavras como nós. Desde que os primeiros sons de entendimento foram ditos na primigénia caverna ou nas pradarias da caça comum que ouvimos palavras que nos agradam e saboreamos com gosto, e outras que nos aborrecem, razão pela qual nós desligamos os canais de comunicação e se possível partimos para outra.
Existem palavras que nos metem medo; às vezes, muito medo! São palavras dos pais que não transigem com os nossos desejos e gostos, ou palavras dos superiores que exigem de nós atenção e reflexão assertivas, ou palavras de leis que alinham e recentram as relações humanas, ou palavras da Igreja que ensinam e dão sentido à vida, transmitem valores humanos e cristãos, palavras nem sempre de veludo, porque, de quando em vez, os nossos ouvidos hão-de ser confrontados pelo destino final e elevado da existência.

Um abismo atrai outro abismo
Quantas vezes essas palavras despertam medos solapadamente adormecidos na nossa psique?
Sim, não é bem um medo de palavras. É antes um medo a nós mesmos, pois o fim é como um abismo, dá vertigem.
Já lá diz um Salmo que um abismo atrai outro abismo, pelo que se entenderá aqui que o da palavra clama pelo da Palavra. O da palavra criada pelo do Verbo incriado.
A palavra humana tem a ousadia de dizer a divina. Como não nos dará isso vertigem?, como não tremeremos ao sentir que bastas vezes nos havemos de elevar prontamente ao nível da existência que nos corresponde como seres humanos de apelo divino?, e ainda mais: nós somos discípulos de Jesus, a Palavra dita em eterno silêncio, e que em silêncio há-de ser escutada: não nos dará esse estatuto um responsabilidade maior de ouvir e entender o que aos outros é permitido ignorar?

Urgir, escutar e arrancar
A Quaresma é boa para a escuta. Urge escutar. Urge arrancar dos ouvidos a inflação de palavras, e do coração as raízes do medo. Urge semear campos de silêncio ao lado das florestas de palavras. Sim, floresçam fecundos campos de silêncio onde brotem frescos jardins de palavras com sentido e fragâncias que temperem e reverdesçam a alma. Esta Quaresma pode ser uma boa oportunidade para arrancar o medo daninho, todo o medo e qualquer medo que afogue o silêncio e destempere a palavra.

Escutai!
Quando por fim a voz do Pai se fez ouvir (terminava assim a profunda seca de séculos em que Deus não se deixara ouvir!), disse: Escutai!
Não foi fácil acolher a proposta de Deus. Nunca é fácil escutar. Mais parece tarefa de subalternos, ou não tivessem os reis conselheiros a quem por vezes ouvem...
Sim, os primeiros discípulos da Palavra ouviam, mas não entendiam. Habituados a escutar interpretações de segunda mão, mais afeitas ao interesse próprio que ao exigente serviço da verdade e da justiça, eles não entendiam!
É mais fácil viver a fé construída pelas nossas ideias e interesses que aquela que Jesus pregou, mais austera e directa ao coração da verdade!
Para algo Deus fala. Para algo deve ser ouvido, como no caso em que Jesus começou a falar depois de tanto tempo sem se ouvir a Voz. Mas, então, não é verdade que muitas vezes não fazemos o que Ele fala e nós ouvimos: Fala de cruz, e nós propomos deserção! Fala de humildade, e queremos empanzinar de poder!
A Palavra é o protagonista. Nós o ouvido e os actores secundários. É por isso que no Evangelho ficou o Escutai!, é por ser preciso ouvi-l’O só a Ele, pois, lamentavelmente, não é só a Ele que nós escutamos!
Chama do Carmo I NS 21 I 8 de Março de 2009

Estádio Rompe Sapatilhas

Rezam as crónicas que viveu momentos gloriosos, com estrelas cintilantes e outras emergentes. Jogaram aqui grandes equipas, de gente célebre (embora ao tempo quase ninguém o soubesse). E teve também jogos em que eram tantos os jogadores que mais de metade não chegava a tocar na bola durante os 15 minutos que intervalavam as aulas! Eram jogadores a mais! Belos tempos! No meu tempo havia espaço para todos e vontade dar pontapés. Também na bola. Jogávamos tanto (bela idade!) e as sapatilhas aqueciam tanto que fumegavam e se rompiam quase num só jogo! (Parece-me que a dormir sonhávamos e sonhando jogávamos, e lá se iam as sapatilhas!) Recebeu por isso o nome de Estádio Rompe Sapatilhas.
Hoje dá pena vê-lo estaleiro de carros durante a semana (La crise oblige). Mas dá gosto vê-lo ao sábado de manhã servir para o que foi criado: pontapé na bola!

Uma visita rápida

Foi uma visita rápida, mas ainda assim uma visita. O Frei Nuno veio do Porto fazer uma breve incursão pela biblioteca, e para visitar a comundiade de quem tem tantas saudades. No fim, para registar o momento e sublinhar a efeméride, tirou uma foto junto do Beato Nuno que se venera na nossa igreja. Bom trabalho, Frei Nuno.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Há dias assim!

Há dias assim! E este fim de semana foi um deles. Sem quase darmos conta fomos invadidos por 20 jovens do Carmo Jovem. Invadidos é maneira de falar: oxalá viessem mais vezes! Foi todo o fim de semana numa bela longa jornada de (In)formação. O futuro vem esperançoso, prometem eles.
Para acompanhar mais:

«É agora o tempo favorável!»

Estivemos junto do Menino Jesus, em retiro espiritual. Foi na semana passada. A orientar o retiro esteve o Espírito Santo, como sempre. E o P. Armindo Vaz a dar-lhe voz. Publicamos uma das suas pequenas reflexões. Pequena? Confira se é mesmo pequena.

No ‘retiro’ ‘retirámo-nos’; mas não saímos fora da vida para nela abrir um parêntesis. Quisemos vivê-la mais intensamente. O ‘retiro’ é um tempo de abastecimento nos caminhos da vida. Caminhos pejados de agruras, como sempre desde que há humanos. Mas caminhos que hoje se percorrem a uma velocidade vertiginosa, em trabalhos, telefonemas, actividades diversas, reuniões... Os trabalhos do quotidiano precipitam-nos na voragem da pressa. Não nos falta o dinheiro. Falta-nos o tempo. Daí a necessidade de parar, para restauro das próprias forças e carregar baterias, qual viático para continuar a caminhar pelas vias do Senhor.
Esta paragem no tempo não foi tempo perdido. Foi tempo ganho ou recuperado: foi um investimento. Investimento seguro, se fizemos destes dias de retiro um tempo salvífico. Os gregos tinham duas palavras para dizer «tempo»: Kairós e Chrónos. Chrónos é o tempo do calendário, contado pelos astros. Segundo a mitologia grega, o deus Chrónos mutilou o pai e devorava os filhos apenas nascidos, para que estes não o destronassem… Com esta concepção mítica significava-se que o tempo cronológico nos devora; é o tempo do relógio que nos envelhece e nos mata. É o tempo indolor e incolor, um tempo atomizado, fragmentado, esboroado em múltiplos fragmentos que não se podem juntar. É o tempo vazio, que nada tem para dar a ninguém. É o tempo infecundo, um tempo para se gastar, como qualquer outra mercadoria à venda no supermercado, um tempo barato, para usar e deitar fora. Mas, porque o tempo cronológico nos quer destruir, suscita uma resposta recriadora, uma luta pela existência por parte dos humanos criados, para, de alguma forma, o vencermos. A forma primeira em que se apresenta a nossa luta pela vida é uma luta contra o tempo cronológico, uma luta contra-relógio, em que, fisicamente, somos vencidos.
Essa luta deveria tornar-nos conscientes do acesso possível a um tempo diferente do tempo cronológico, aquele que os gregos chamavam Kairós, um tempo salvífico, pelo qual podemos ser salvos, o tempo definido e determinado, o tempo marcante, o tempo da graça, que nos lança para o futuro pelos caminhos da verdade e da bondade, da rectidão, da lealdade e da felicidade. É o tempo da acção de Deus em favor do homem, por exemplo, o tempo do Advento e do Natal, o tempo Quaresma e da Páscoa, o tempo da receptividade, da festa e da história humana. É o tempo com sentido, que dá sentido à vida, vivida com consciência e com densidade. É o tempo em que nos situamos e nos empenhamos livremente na construção de um mundo sempre melhor. É o tempo de que fala S. Paulo: “Exortamo-vos a que não recebais em vão a graça de Deus; pois Ele diz: ‘no tempo favorável (kairõ dektõ) escutei-te, no dia da salvação ajudei-te’[Is 49,8]. É agora o tempo favorável (kairós euprósdektos); é agora o dia da salvação” (2Cor 6,1-2).
Habituados durante séculos a contrapor tempo e eternidade, precisamos de recuperar o valor do tempo em que construímos a nossa pequena e grande história de salvação. Desde que o Filho eterno de Deus se tornou temporal, nós, seus discípulos, não podemos desprezar o calendário como algo fútil. Para o sábio de Israel (Qohélet 3,1-8), “tudo tem o seu tempo”. Para o cristão, o tempo é tudo, porque ele é o arco de vida que nos é dado para podermos amar. Nele construímos a eternidade. Perder um minuto significa perder algo que tem a ver com a eternidade. O tempo é o único transporte que temos para chegar à eternidade: é o nosso avião, não a nossa mansão. O tempo é o lugar para a responsabilidade. Ciente dessa realidade inelutável, Paulo exorta-nos: “Olhai atentamente como viveis. Não sejais néscios, mas sábios, aproveitando o tempo (kairón) ao máximo, porque estes dias são maus” (Ef 5,16; Col 4,5).
Para cada um de nós, o tempo é o precioso dom que recebemos no dia da nossa concepção. É o breve instante em que nos transformamos naquilo que somos e seremos. Nada de dramatismo. Mas também nada de esbanjamento, porque «o tempo é breve». Sempre que tivermos oportunidade de amar, esse é o melhor tempo de cada dia. O melhor testemunho que se poderá dar de nós diante de Deus e dos homens é: “teve tempo para mim!” Foi quando identificámos o tempo com o amor.
Ora, estes dias de retiro, que dedicámos a pensar Deus de novo, foram para nós dias de salvação, um tempo kairós. Vivendo-os no sossego contemplativo, proclamámos que não nos queremos render ao Chrónos que nos vai engolindo e deteriorando, mas que aceitamos desafios sempre mais altos para continuar a responder com generosidade aos apelos e às carências dos nossos irmãos. Não queremos deixar-nos vencer pelo Chrónos. Queremos sonhar como se devêssemos viver para sempre; queremos viver hoje como se devêssemos morrer amanhã. Ámen.
P. Armindo dos Santos Vaz

terça-feira, 3 de março de 2009

Rumo à Canonização (IX)

A MEM´ROIA DOS POBRES E LISBOA EM PALAVRAS

O gram Condestabre
Em o seu mosteiro,
Da-nos sua sopa,
Mai-la sua ropa
mai-lo seu dinheiro.

A benção de Deos
Cahio na CaldeiraD
e Nuno Alves Pereira,
Que abondo cresceo,
E todo-lo deo.

Se comer queredes
Non bades alem:
Don menga non tem,
Ahi lo comerdes,
Com lo bedes.

segunda-feira, 2 de março de 2009

06 - 08 Março | Encontro Matrimonial

Aqui, no Centro de Nossa Senhora do Carmo, vai realizar-se um Encontro de espiritualidade matrimonial para casais que queiram enriquecer e aprofundar a sua relação. Contactos: 968418983 e 965852852.

(Caminhar) com Deus e o Diabo

A presença do Maligno nas nossas vidas é uma constante irrenunciável. Talvez devesse começar estas palavras dizendo que a presença de Deus em nossas vidas é real, permanente, benéfica, salutar. O Pai está connosco e nós caminhamos na intempérie dos dias sob a Sua mão protectora; o Filho está connosco até ao fim dos tempos como Pão e como Palavra que fortalecem as nossas debilidades; o Espírito Santo está connosco como fogo novo e brisa suave, como aguaceiro ameno que nos refresca e reanima.
O Bem e o Mal, o trigo e o joio, a luz e as trevas, isso tudo, e mais, e menos, são a nossa vida. Sim, também o Mal. Ele toca-nos, fere-nos, seduz-nos. Bem e Mal são duas presenças e dois apelos que ressoam poderosamente no nosso interior. Um mais sedutor outro mais austero, ambos, a seu tempo, e também em sobreposição, falam-nos e fazem-nos vibrar. Somos tocados pela graça e pelo pecado. Somos aliciados pela doce-amargo da tentação e abençoados pela divina mão.

Vamos todos ao deserto
Hoje, Jesus vai para o deserto. Como nós, para o deserto da Quaresma. Deus fala e empurra, e nós vamos. O Mal chama e mesmo não querendo, damos-lhe a mão, e por vezes, seguimo-lo.
Vivemos em presença do Bem. E do Mal. Como Jesus. Também Ele sentiu o apelo do Maligno, como se relata no Evangelho de cada primeiro domingo da Quaresma. Em Jesus o Bem sentiu o apelo do Mal. É bem verdade que «nós não temos um sumo sacerdote incapaz de partilhar connosco o peso das nossas debilidades.» Sim, o Mal tocou a carne e o espírito de Jesus, porque Jesus é igual a nós, excepto no pecado. Não nos restem dúvidas: Jesus foi tentado em tudo, e não apenas uma vez! Foi tentado, e venceu!
O Espírito Santo conduziu Jesus para o deserto, onde Satanás O tentou. Sim, a vida de Jesus esteve inundada pela alegria e força do Espírito Santo, mas, ainda assim, não deixou de ser tocada pelo Maligno.

Quem não se sentiu já na encruzilhada?
Espantamo-nos que assim seja: como pode ser que Jesus seja tentado, e mais, não uma mas muitas vezes? Sim, o Filho bem amado do Pai provou de todos os cálices que se servem à mesa dos humanos, excepto do licor do pecado. Assim Jesus, assim nós. A nós como a Ele são-nos oferecidos vinhos e licores, mas nem todos se devem beber; são-nos propostos caminhos de êxito estrondoso, de sucesso cheio de luzes, de facilidades sedutoras, mas nem todos se devem percorrer, nem todos se devem provar e escolher.
Quem não se sentiu já na encruzilhada?
Quem não teve já de confessar como Paulo: «faço o mal que não quero, e não faço o bem que quero?» Porque, como bem sabemos e Paulo também o confirma, «levamos na carne um anjo de Satanás que nos esbofeteia.»

Nem tudo vale
Haveríamos de ser mais cuidadosos, pois nem tudo vale. É necessário fazer mais vezes a verificação da origem das escolhas da nossa vida. Sim, nem tudo vale. Não vale ser feliz, só porque se quer ser feliz. Não vale conquistar o direito a sorrir e a gozar como se fora um direito inerente ao nascer e ao viver.
Grande valor é o da paciência que nasce duma interioridade educada e burilada no caminho dos dias e, tantas vezes, dos sofrimentos. Sim, grande valor é o da paciência!
Porém, não havemos jamais de ignorar que pelos caminhos que pisamos não vamos sós, não vão apenas os amigos e o Amigo. Vão também os adversários e o Inimigo, que tantas vezes nos aponta belas miragens sedutoras, sussurando--nos: «Felizes os que têm; felizes os que podem; felizes os que se alimentam de prazer!»
Já alguém exclamou que o maior mérito do Diabo é fazer crer que não existe. Existe. Tenta e seduz. Oferece sonhos e premeia escolhas. Jesus soube-o, os santos souberam-no. Jesus conviveu em sua companhia, os santos também.

Livrai-nos do mal
Estamos em Quaresma, tempo para rezar e tempo para caminhar. Tempo de Pai Nosso.
Jesus foi tentado, nós também. Quaresma é tempo favorável para Deus e oportuno para o Diabo. É tempo para rezarmos: «não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal».
Tantas vezes rezamos pedindo ajuda contra o Mal, por que tantas vezes o Mal se insinua no nosso coração com artes e engenhos e manhas que só ele! Ergamos o coração e as mãos para o Pai de quem nos vem todos os bens, porque bem sabemos que outros que saciam as nossas ânsias nos vêm de quem não nos quer bem!
Chama do Carmo I NS20 I 1 de Março de 2009