sábado, 20 de fevereiro de 2010

A rotina não sacia, precisamos de conversão!

Mais de mil milhões de católicos começaram na passada Quarta-feira a Quaresma. Entretanto, o Papa pediu que fizéssemos deste Tempo de 40 dias «uma sincera revisão de vida à luz dos ensinamentos evangélicos». É por aí que vamos. O Deus cujo rosto se desvela na Quaresma cristã é um Deus bom, é aquele Pai bom que no início da vida pública fala a Jesus para lhe dizer: — Tu és o meu Filho muito amado!
Porém, é inevitável, quando pensamos em Quaresma pensarmos em dor, sofrimento, privação, jejum, penitência, tristeza, rigor, via sacra. Tudo coisas que não atraem. Mas se a Quaresma for só isso é muito pouco, porque ela é sobretudo tempo de conversão, de sinceridade interior, de regresso ao amor activo.
O nosso Deus é um Deus que dá vida e que rejubila por que nos quer felizes com a vida que nos dá. Por isso, o princípio da conversão cristã é um só: reconhecer a alegria do Pai que continuamente nos dá mais vida.
A maioria de nós só hoje começa a Quaresma. Vamos, pois, dar-lhe andamento. Com coragem.
Os que presidem às comunidades cristãs sentem--se na obrigação de organizar propostas que ajudem a comunidade a viver este tempo. E que oferecem? Oferecemos: um que outro retiro, sacramento da reconciliação, devoção da via sacra, tríduos e novenas, e uma que outra Procissão dos Passos.
Mas chega isso? Talvez sim, talvez não. Talvez sim, porque essa é uma parte das práticas quaresmais e alguns bastam-se com elas, sem mais. Talvez não, porque depois tudo continua igual. Não é certo que o Carnaval ainda está longe de chegar e já alguns começam a suar porque têm de confessar-se ao Padre?! Pergunto: surtirá isso efeito algum? Quer dizer: move a alguma mudança de comportamento? Torna-nos mais cristãos? E depois, o pregador quaresmal até pode ter um êxito que mereça palmas, mas outro terá de repetir para o ano, porque, nada, entretanto, mudará. As doenças da família continuam (e não é só por culpa dele, ou só dela!); continua o desporto da má-língua em que somos imbatíveis e repetidamente campeões europeus; as divisões não se resolvem (quem estava zangado, zangado continua); quem paga mal aos empregados continua a pagar mal (e se puder ainda despede); quem puder ganhar muito dinheiro comprando por pouco e (re)vendendo por muito, vai continuar a fazê-lo!
Por isso, se pergunta: vale a pena a Quaresma? Se eu nada fizer por mudar para melhor, porque vou a tríduos, novenas, retiros, confissões e procissões?
Contudo, entenda-se, estas propostas mais simples devem manter-se. E nós devemos converter--nos, porque não chega tomar tranquilizantes, temos mesmo de nos converter ou a Quaresma não é Quaresma. Ela é, enfim, um convite à conversão cordial (quer dizer, do coração) ao projecto de Jesus. Porque havemos de inventar sucedâneos e obedecer a segundas opções? Cristo é a nossa única opção!
A conversão não é passageira, nem a meias, não consiste na prática de certas exterioridades, mas na purificação do coração e na mudança de vida. O Senhor jamais propõe evasões, antes nos impera, como escutámos na Missa das Cinzas, pela voz do Profeta Joel: «Voltai para o Senhor, vosso Deus».
A conversão nunca é uma cedência à rotina.
A rotina tranquiliza, mas não sacia. O que o Senhor nos pede é o regresso a Ele. Se a conversão tem de ser uma inversão da má marcha que levámos, convém que examinemos as nossas relações com os outros: Como tratamos os pobres: como uma chatice e um chatice que não nos desampara a porta? Com desprezo? E os que somos patrões, como tratamos os trabalhadores: pagando o justo e a horas certas? Obrigando a trabalhar mais por menos?
Convém que examinemos a nossa relação com Deus: Somos pecadores, é verdade: vale a pena confessar-nos e comungar se depois continuamos a enganar o próximo? Somos homens, é verdade: mas será isso impeditivo de mudarmos de vez para o lado do bem? Somos fracos, é verdade, e iremos voltar a cair no pecado, grande ou pequeno: porque não buscamos a força da oração e não contamos com a ajuda da graça de Deus?
A conversão não é repetitiva, banal nem esmoece. Ela renova as relações com o outro e com Deus, que mostra estar atento: «Pobre de vós, que meditais na injustiça; tramais o mal durante a noite e ao amanhecer o executais»! (Profeta Miqueias)
Um dia será o dia decisivo para fazer a sementeira contínua do bem, uma sementeira sem medo do trabalho nem das dores, nem das canseiras, nem de sermos amigos do Semeador. Aceite o convite. Nos próximos tempos tem ao seu alcance:
1. A oração de Laudes e Vésperas com os frades no oratório da Comunidade (07:30h e 19:00h);
2. A Via Sacra em comunidade, às Sextas (08:30h) e Domingos (17:15h);
3. Participar no Encontro de Espiritualidade (Sábado, 27 Fevereiro, 10:00h - 18:00h);
4. Participar no Retiro quaresmal (Sábado, 13 de Março, 10:00h - 18:00h).
Chama do Carmo I NS 58 I Fevereiro 21, 2010

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