sábado, 24 de abril de 2010

Eu gostava de vir a ser muitas coisas!

Queridos amigos e irmãos em Cristo Jesus:
Chamo-me Prabesh, sou natural de Karumkulam (Thiruvananthapuram) no Estado de Kerala, no sul da Índia. Tenho 26 anos, faço parte da Comunidade dos Padres Carmelitas Descalços no Porto, que é formada por 3 padres e 6 estudantes seminaristas.
Durante todo o mês de Abril fomos convidados a rezar pelas vocações ao sacerdócio e à Vida Religiosa.
A Eucaristia é o momento privilegiado para celebrarmos comunitariamente a nossa condição de baptizados e reflectirmos sobre o lugar que ocupamos na Igreja que todos juntos formamos.
Sinto-me particularmente feliz me dirigir a vós neste Domingo do Bom Pastor, para partilhar a minha opção de seguir Jesus Cristo, Bom Pastor.
Embora na altura não tivesse consciência disso, hoje sinto que a minha vocação começou quando os meus pais me levaram a baptizar. Ao entrar na Igreja, pela fé e pelo Baptismo, tomei parte na vocação sacerdotal do povo de Deus, assim como cada um de vós. O testemunho de vida cristã de meus pais e de um padre carmelita, com quem vivi dos 9 aos 14 anos, ajudou-me a crescer na fé.
Nessa altura, eu gostava de vir a ser muitas coisas: chefe de família e pescador como o meu pai, jogador de futebol ou economista para descobrir maneiras de dividir melhor as riquezas...
Fui descobrindo que, segundo o Evangelho, todos somos iguais em razão da nossa vocação em Cristo. As funções diferentes, mas todas supõem uma vocação na comunidade e para a comunidade.
Senti-me chamado a seguir Jesus na família carmelita. Não foi algo de extraordinário, não ouvi uma voz dizer-me: — Prabesh, anda, segue-Me mais de perto, como a Bíblia nos conta sobre o chamamento de Abraão, Moisés, Isaías ou Jeremias…
Não foi num dia e numa hora concretos…
Lembro-me que me fui deixando questionar por Cristo, que em muitos momentos (e sempre) senti que se queria encontrar comigo, me atraía com o seu programa de vida, me entusiasmava com a criatividade que eu poderia usar num trabalho mais próximo dele.
Entrei para a Ordem dos Padres Carmelitas, na Índia, com 14 anos e fiz o Noviciado com 18 anos. E, logo a seguir, fui convidado a vir para Portugal, para continuar os meus estudos, aprender português e preparar-me para trabalhar como missionário em algum país de língua oficial portuguesa.
Num primeiro momento senti muito medo. Senti que o Senhor tomara a iniciativa de me consagrar, que me dera tudo e me enviava a preparar-me para outras missões. Vim com outro colega de Noviciado. Aceitei vir para longe dos meus coqueiros — onde tantas vezes subi, desobedecendo às regras do meu Colégio!
Sinto meu o desafio da Ordem Carmelita, que é minha, em dar continuidade ao carisma dos seus grandes santos e doutores da Igreja universal: Santa Teresa de Jesus, São João da Cruz, Santa Teresinha e tantos outros carmelitas anónimos que se entregaram e se santificaram numa vida de acção e contemplação dentro da Igreja.
A Igreja celebra hoje o dia do Bom Pastor, dia mundial de oração pelas vocações do povo de Deus.
O projecto da Salvação só poderá ir em frente se Deus puder contar com pessoas que, à imagem do Bom Pastor, carreguem aos ombros os desígnios de Deus e os anseios dos homens.
Jesus Cristo auto-define-se como Aquele que dá a vida pelo rebanho. A nossa condição de baptizados responsabiliza-nos a segui-Lo.
A sua experiência de vida, morte e ressurreição, dá-lhe todo o poder para chamar a levar a cabo uma nova evangelização, assente na leitura cristã das realidades concretas.
Vós, pais, não tenhais medo de incentivar os vossos filhos a seguir Jesus. Ele promete e cumpre quando diz: “Não tenhais medo, Eu estarei convosco”.
Seguir Jesus dá alegria, acreditem que é verdade.
A Igreja, Povo de Deus, precisa de vocações generosas que se disponham a viver a sua vocação cristã e a testemunhar Cristo.
A Madre Teresa de Calcutá disse um dia: “Vejo Deus em cada ser humano. Quando limpo as feridas do leproso sinto que estou a cuidar do próprio Senhor.” E remata: “Não é esta uma experiência maravilhosa?”
O pai espiritual e político do meu país, Mahatma Gandhi, quando lhe foi pedida uma mensagem final, disse: “Que a nossa mensagem seja a nossa própria vida.”
Precisamos de anunciar e denunciar, de abrir o coração e deixar entrar Cristo, Aquele que exerceu a sua missão como um serviço de bondade, indo à procura da ovelha perdida, a fim de a alimentar com a sua Palavra de Esperança, com o Pão da sua Eucaristia e com o gesto do perdão e reconciliação.
Para concluir, convido as famílias a dar testemunho da sua fé, os adolescentes e jovens a incluir a opção pelo sacerdócio e pela Vida Religiosa nos seus testes vocacionais, convido todos a unirem--se na oração onde vamos buscar a força para decidir e perseverar.
Que o Bom Pastor nos tire o medo e a insegurança, para podermos sentir e proclamar com Santa Teresinha: “No coração da Igreja, minha mãe, eu serei o AMOR!”
Frei Prabesh Jacob

Chama do carmo NS67 Abril 25, 2010

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