sábado, 23 de outubro de 2010

Mais que um título, é uma obrigação ser-se missionário!

O Dia Mundial das Missões foi criado no ano de 1926 pelo Papa Pio XI, com a intenção de que em toda a Igreja Católica se renovasse o ardor pela vida missionária, com o desejo de que os cristãos sentissem o apelo de viver Cristo para além das próprias fronteiras, para nos desafiarmos a nós próprios a sermos universais e missionários. Todos os discípulos de Cristo somos como Ele: todos para todos.
Outubro é o Mês das Missões; este quarto domingo é o Dia das Missões. Neste ano somos sensibilizados pelo tema «Missão e partilha», e pelo lema: «Ouvi o clamor do meu povo».
Este domingo recorda-nos que todos somos chamados à responsabilidade pela missão. «Ai de mim se eu não evangelizar», dizia o Apóstolo Paulo. Todo o cristão é missionário. Porém, nem o ser cristão nem o ser missionário é um título de glória do qual retiremos rendimentos ou nos possamos orgulhar, mas antes uma obrigação e uma responsabilidade ingentes.
Um cristão adulto e responsável vive, respira e actua como missionário, apoia as missões com o seu tempo, suporta-as com a sua ajuda monetária, reza pelos missionários, entrega-se pessoalmente às missões por um período de tempo ou por toda a vida, semeia a alegria de ter sido encontrado por Cristo e não descansa sem ter alargado esse contágio que ilumina a vida, chama para Cristo.
O Domingo das Missões é o nosso domingo, é o domingo de todos!
Em 1990, num texto sobre a vida missionária da Igreja o Papa João Paulo II escreveu: «O Dia Mundial das Missões, orientado à sensibilização para o problema missionário, mas também para a recolha de fundos, constitui um momento importante na vida da Igreja, porque ensina como se deve dar o contributo: na celebração eucarística, ou seja, como oferta a Deus, e para todas as missões do mundo.» E ainda: «Quanto às ajudas materiais, é importante ver o espírito com que se dá. Para isso torna-se necessário rever o próprio estilo de vida: as missões não solicitam apenas uma ajuda, mas uma partilha do anúncio e da caridade para os pobres. Tudo o que recebemos de Deus — tanto a vida como os bens materiais — não é nosso, mas foi-nos confiado em uso. Que a generosidade no dar seja sempre iluminada e inspirada pela fé! Estamos em crise e a deitar contas à vida. Aqui e ali vê-se claramente que os tostões são (ou começam a ser) contados, que os gastos são (mais) pensados. Talvez esse seja um benefício da crise. É certo que a crise nos posicionou diferentemente na vida (ou vai fazê-lo). Os impostos subiram, as regalias diminuíram, os benefícios fiscais quase desapareceram, ou foram-se de todo. Talvez a crise nos traga a sabedoria do viver austero, a beleza da frugalidade. Talvez tenha chegado o momento de batermos no peito e nos reconhecermos pecadores porque esbanjadores, maus cristãos porque afeitos a comezainas solenes e a grandes celebrações gastronómicas, homens e mulheres imperfeitos e egoístas porque pensamos quase só com o estômago e estragamos levianamente, quando, se fôssemos mais responsáveis, poupavamos mais, gastavamos menos e com a nossa partilha fraterna aconchegavamos a muitos que passam fome de pão, cultura e dignidade.
A crise algo nos há-de ensinar. Talvez a poupar como há anos se fazia. E oxalá, a repartir. É Dia das Missões, é dia de reaprender a repartir. Outros antes que nós e mais que nós foram fuzilados pela crise. Reaprenderemos a partilhar? Estou crente que sim. Abraçar a responsabilidade de ser-se missionário obriga a ter como resposta o regresso da fraternidade e o repartir do pão e do ganho arrancado nas duras canseiras da vida.
O Baptismo faz de nós cristãos, outros cristos. Como Cristo. É Ele a quem imitamos e seguimos. É olhando-O que aprenderemos a fazer como Ele. Essa é a nossa credibilidade e a força que emprestamos ao anúncio. Sermos cristãos é sermos missionários. Não podemos ser cristãos sem sermos dEle e como Ele: cristãos missionários! (Que outros não há!)
Sou eu, és tu, de Cristo? És pobre e feliz como Cristo? Livre e límpido como Cristo? Pedra de toque e palavra de Evangelho como Cristo?
Talvez, portanto, não haja de ir-se para longe para se ser seu missionário, imagem sua, cristão!


Chama do Carmo I NS 81 I 24 de Outubro de 2010

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