sábado, 22 de janeiro de 2011

As primeiras palavras

Começamos neste domingo terceiro do tempo comum a leitura continuada do Evangelho de Mateus. Não a começamos de início, mas pelas primeiras palavras públicas de Jesus Messias. Antes, já Mateus narrou os mistérios da infância de Jesus e o seu Baptismo no Jordão, aos trinta anos.
Logo depois Jesus abandonou a sua casa de Nazaré e fixou-se na cidadezinha de Cafarnaum. Esta cidade da beira mar será a sua casa e a base da sua pregação.
Tudo é novo quando nos nasce uma criança. Na família acende-se uma luz e tudo o que ela faça ou diga é tão novo tão novo que é digno de transcrição em acta para memória futura. As suas primeiras palavras ficam-nos gravadas para sempre, com a mesma (im)perfeição e inflexão de voz.
Os primeiros trinta anos da vida de Jesus são ocultos, isto é, são de uma vida tão normalíssima que parece sem brilho, sem chama, sem interesse. Deles possuímos raras informações. E dos doze aos trinta anos não possuímos mesmo uma que seja! É como se a vida normal de quem quer que seja (e a de Jesus também) jamais tivesse história para contar. Porém, esse silêncio de Nazaré vale para nós como uma afirmação maior: a vida normal dum trabalhador e a vida normal duma família são lugar de caminhada para Deus e de santificação humana.
No Evangelho deste domingo, segundo Mateus, ouvimos as primeiras palavras de Jesus investido como pregador e profeta do Reino. Foram elas: «Convertei-vos, porque o Reino de Deus está próximo»; «Segui-me e farei de vós pescadores de homens.»
São palavras para guardar, porque por alguma razão foram as escolhidas por Jesus para serem as primeiras. Por isso qualquer cristão as deveria saber e trazer gravadas no coração.
Jesus inicia hoje o período público da sua vida, que durou os últimos três anos. As suas primeiras palavras — e merecem destaque por serem as primeiras e a síntese de toda a sua mensagem — são o anúncio de que o Reino de Deus está a chegar e exige conversão, e o chamamento dos primeiros discípulos, que prontamente O seguem.

O Reino de Deus está próximo
Quando amanhece a luz separa e esparze as trevas. Assim foi o Natal de Jesus: um aparecimento da luz, e em certo modo o mesmo sucedeu quando Jesus começou a pregar. A sua palavra separa o tempo obscuro do não dito e do dito, do desconhecimento de quem Ele seja e o sentido da sua missão.
Há luz quando Jesus fala.
As suas palavras são um convite a que cada pessoa que com Ele se encontre procure rever toda a sua vida. Quem com Jesus se encontra entra numa nova ordem. Já não valem os valores deste mundo, mas os desejos de Deus. Por isso, desde o início, Jesus chama à conversão, porque o Reino de Deus está próximo deste mundo.

Segui-me
As palavras de Jesus não são secretas. Não foram ditas em segredo. Não fundaram nenhuma sociedade secreta que guardasse a sua sabedoria de salvação. O projecto de Jesus era bem outro, por isso começou a caminhar à beira mar propondo aos pescadores de Cafarnaum que O seguissem.
Convenhamos que não é coisa fácil!
Segui-me é ainda a mensagem para hoje. Pelas bordas da nossa vida Jesus vai passando e convidando. E o que era difícil antes continua a ser hoje. Ser cristão, isto é, ser de Cristo e como Cristo é um chamamento a entrar numa comunidade que torne possível o encontro com Jesus, a segui-lO e a continuar a sua missão evangelizadora.
Jesus percorria a região da Galileia ensinando nas sinagogas e curando as doenças do povo. Eis num resumo a confirmação da força das palavras de Jesus. Eis também a razão por que precisava de discípulos: a sua missão de iluminação tinha de continuar para além do tempo dEle. Por isso precisava que alguém O seguisse de perto e dEle recolhesse a luz, O visse a anunciar e a rezar e dEle aprendesse.
Surpreendentemente a luz da palavra de Jesus foi primeiro oferecida a quem se habituara a precisar de luz no meio da noite: os pescadores. Eles seguiram a luz da palavra e assim eles são modelos para a nossa escuridão. O Senhor deseja hoje iluminar as nossas vidas com a única luz que sabe nos pode iluminar. Num tempo de crepúsculo vocacional bem falta nos faz a luz de Jesus. Talvez hoje ela nos mostre que não basta pedir apenas vocações e mais vocações sacerdotais e religiosas, mas sobretudo laicais que O sigam e sem condições sirvam a Igreja e o Mundo com a luz e o sal que Cristo a todos nos infunde.
Chama do Carmo I NS94 I Janeiro 23, 2011

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