domingo, 10 de abril de 2011

— Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido!

Betânia deveria ser linda. Digo também que a comunidade de Betânia era muito aprazível para Jesus.

Por que a imaginação imagina sempre o que quer, eu vejo aquela localidade como um lugar belo. Por que ficava a poucos quilómetros de Jerusalém talvez os peregrinos não se detivessem muito por lá, mas Jesus recolhia-se àquele remanso sempre que ia à Cidade Santa. Ia à Cidade e ali regressava para repousar.
Mais que lugar, Betânia significa para mim comunidade cristã acolhedora.
Ali, Marta presidia, Maria ouvia, rezava e ungia. Lázaro não sei que papel tivesse, mas tinha um lugar grande no coração de Jesus. Tão grande que na sua morte Jesus o chorou! Tão grande que mesmo sabendo que o ressuscitaria, Jesus se enterneceu e lamentou que tivesse morrido!
A vida, a morte e o retorno à vida é o centro do evangelho deste Domingo V da Quaresma. As duas irmãs, que é como quem diz, desde as chefias às bases, lamentaram a morte do irmão com as mesmas palavras: — Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido!

O lamento é de fé confiante, mas também de busca e desconhecimento. Porém, tudo acontecia para que se manifestasse a glória de Deus.
E o povo que não é parvo reivindicava à sua maneira, dizendo: — Então, Ele, [que no domingo passado] abriu os olhos ao cego, não podia ter feito com que este homem não tivesse morrido?
Poder podia, mas não seria a mesma coisa. E o mistério da misericórdia de Deus tem os seus caminhos.
A fé cristã confirma-nos na vida; isto é, que Deus é o Deus da vida e que Jesus é um vencedor. Ele venceu a morte, o mais terrível dos inimigos. Venceu-a no campo de batalha do corpo do seu amigo Lázaro e venceu-a no seu corpo.
E é também verdade que o Espírito do Senhor vencedor habita os nossos corpos.
Celebramos neste domingo a quinta etapa do nosso itinerário quaresmal. Quem faltou a alguma das outras etapas terá mais dificuldades em renovar a fé, porque menos assistiu, e sobretudo menos celebrou a acção salvadora de Deus na vida de cada um de nós e da sua comunidade.
Hoje celebramos a vitória da vida.
Porém, desconfiamos. Somos cépticos como quem aceita porque talvez seja bom aceitar, tal é a desmesura da verdade. E olhamos de soslaio como quem busca inventar uma saída, como quem teme que outra não exista. Que Deus me perdoe, dizemos. E duvidamos, e desconfiamos.
Perante as mortes de mais um terramoto ficámos mudos. Se depois do terramoto veio o tsunami, mais mudos ficámos. Se depois de tudo isto cai a vergasta da contaminação nuclear, nem um ai, nem um suspiro nos sai. Na Líbia vemos guerras como que feitas para filmes. Só que neste filme as mortes são verdadeiras! Na Costa do Marfim idem, aspas, aspas. Parece frio e é a realidade: são mortes de humanos! De outra cor, mas humanos! E aqui no nosso terreiro é o que se sabe e a gente sente: silêncio e desespero por toda a parte, por toda a crise!
E o nosso desespero berra surdo, tão surdo quanto é também para si que busca soluções: — Ai, Senhor, Senhor, se tivesses estado aqui...
Quão pequeninos somos! Na curteza de vistas e de fé, isso é o que sentimos: Se Deus existe, se está connosco, se continua a actuar no mundo, como é que ele continue à deriva? Será Deus capaz de resgatar todas estas vidas que morreram antes de tempo? Quem fará justiça a tantos inocentes? Quem abrirá tantos sepulcros? Quem declarará sagrada tanta terra banhada por sangue inocente? E quem defenderá o seu direito depois de também ela ter sido ferida de morte? Se Deus é Deus da vida, como vivemos rodeados de tanta morte? Por onde andas, Senhor, quando precisamos de Ti?
Restam-me do evangelho deste domingo duas respostas, que rezo, a fim de que me infundam serenidade e fortaleza.
Uma: Quando avisaram Jesus da gravidade da doença de Lázaro, Ele apenas referiu que aquela era uma situação para manifestar a glória de Deus. Quando se decidiu a ir vê-lo já ele morrera; e então declara, que «o nosso amigo Lázaro está a dormir». A visão cristã da morte inscreve-se aqui: é apenas um sono; a ressurreição é que é o verdadeiro cume glorioso!
Duas: Jesus chega à amada Betânia quatro dias depois da morte do amigo. É impossível fazer algo, e Marta, a chefe, acusa-o disso! E Maria, a assembleia, acusa-o disso também! Chegara tarde! Jesus, porém, apenas promete que Lázaro ressuscitará. E ao ver todos a chorar chora também. Mostra claramente que ama o amigo.
Poderá a morte vencer o amor? Não. A morte só não vence o amor. Por isso, Jesus invoca o Pai que sempre O escuta e pede-Lhe que o milagre aconteça, para que os que amam vejam e acreditem.
E o morto obedeceu e saiu do lugar da morte.
Sim, Senhor, eu amo, mas aumenta a minha fé!
Chama do Carmo I NS 105 I Abril 10, 2011

1 comentário:

Anónimo disse...

"A visão cristã da morte é apenas um sono; a ressurreição é que é o verdadeiro cume glorioso". Mas durante a nossa vida não nos preparam para isto, melhor dizendo, não nos incutem esta Verdade. A morte é vista como o fim. E perante a morte de alguém que nos é amado, questionamos os motivos e as razões que determinaram e possibilitaram tal acontecimento. E questionamos a justiça de Deus. E depois, muito depois, com serenidade e com muita Oração, encontramos uma razão para o que aconteceu: do "outro lado" há, com toda a certeza, um local maravilhoso, cheio de verde e azul, cheio de paz e de música, onde Deus é Vida e acolhe aquele que, para nós, foi "roubado". Só assim eu entendo a partida da pessoa mais importante da minha vida, o meu avô. E só passado muito, muito tempo dele não estar comigo, eu descobri/aprendi/acreditei que está num sítio bom, com Deus, a velar por mim e por toda a família. E um dia estaremos todos juntos.
Para já, é assim que eu entendo estes factos.
Peco por pensar assim?