domingo, 22 de maio de 2011

B. Maria Clara do Menino Jesus (1843-1899): Religiosa, fundadora, Mãe dos pobres.

Ontem, 21 de Maio de 2011, foi beatificada em Lisboa a Mãe Clara, Mãe dos pobres. Na pia baptismal recebeu o nome de Libânia do Carmo Galvão Mexia de Moura Telles de Albuquerque. Nasceu na Amadora, no dia 15 de Junho de 1843. Tendo ficado órfã nas epidemias de 1856-57, foi educada no Asilo Real da Ajuda, em Lisboa, destinado às órfãs de famílias nobres. Aos 19 anos foi acolhida no Palácio dos Marqueses de Valada, com quem viveu cerca de 5 anos. Após este tempo, vivido no meio de luxos e vaidade social, decidiu renunciar a tudo e entrar no Pensionato de S. Patrício, junto das Irmãs Capuchinhas Concepcionistas, orientado pelo Padre Raimundo dos Anjos Beirão.

Aqui, percebendo o chamamento do Senhor, iniciou uma caminhada de entrega definitiva a Deus, consagrando-se na Ordem Terceira de S. Francisco, sob a orientação espiritual do Padre Raimundo, ele também frade franciscano. Recebeu o hábito de Capuchinha em 1869, com o nome de Irmã Maria Clara do Menino Jesus.
Em Portugal vigorava a proibição das Congregações Religiosas. A Irmã Maria Clara foi então a Calais, França, para aí fazer o seu noviciado e emitir os votos públicos. Era urgente a fundação de um Instituto religioso português para dar resposta às necessidades da pobreza e de todos os tipos de miséria das pessoas.
Regressada a Portugal a 1 de Maio de 1871, deu início à Congregação das Irmãs Hospitaleiras dos Pobres pelo Amor de Deus. Fundou a primeira comunidade no dia 3 de Maio daquele ano e, cinco anos depois, a 27 de Março de 1876, a Congregação era aprovada pela Santa Sé.
Dotada de um coração transbordante de bondade e de ternura pelos mais pobres e abandonados, dedicou a vida inteira a minorar sofrimentos e dores. Encheu Portugal de Centros de Assistência, Atendimento e Educação, onde todos os desvalidos pudessem encontrar carinho, agasalho e amparo, qualquer que fosse a condição social.
No tempo em que foi Superiora Geral, abriu mais de 100 obras e recebeu mais de mil irmãs!
A Congregação procurava estar presente e actuante em todo o lugar onde houvesse o bem a fazer. No meio dos sofrimentos de toda a espécie: na solidão, na doença, na perseguição de que foi alvo, na incompreensão e na calúnia, a Madre Maria Clara soube manter-se sempre fiel a Deus e à missão que Ele lhe confiara; viveu em constante serviço alegre e generoso a todos. Sem excepção. Desculpava e perdoava a todos, com caridade e fé heróicas. Àqueles de quem recebia maiores ofensas servia de joelhos.
Convicta de que “nada acontece no mundo sem permissão divina”, tudo recebia como vindo das mãos de Deus: pessoas e acontecimentos, dores e alegrias, saúde e doença. A única razão de ser da Congregação deveria consistir em servir, animar, acolher e aconchegar a todos. Iluminar e aquecer. A hospitalidade.
Viveu toda a sua vida numa esperança e confiança inabaláveis. Nada possuindo além do amor de Deus em Cristo Crucificado, que ela experimentava em todos aqueles a quem chamava a “minha gente”.
Repousa hoje na Cripta da Capela da Casa Mãe da Congregação, em Linda-a-Pastora, Oeiras.
No ano de 1856, a epidemia de cólera-morbus invadiu a capital e grande parte do Reino, fazendo inúmeras vítimas. No ano seguinte caiu o terrível flagelo da febre amarela. O Reino viu-se confrontado com a necessidade de responder às urgências de uma tal situação, nomeadamente tratar dos órfãos, filhos desta tragédia.
Era rei D. Pedro V, que decidiu ceder parte do seu Palácio da Ajuda e aí fundou o Asilo Real, que dava educação às filhas órfãs das famílias nobres e fidalgas de então. O seu predecessor, D. Pedro IV, extinguira todas as Casas Religiosas por decreto de 30 de Maio de 1834. Por essa razão não havia Institutos Religiosos no país que ajudassem a minorar os efeitos da epidemia.
Foi nesse colégio que a Libânia do Carmo fez a sua educação e formação.
Entretanto, a feroz perseguição orquestrada pela Maçonaria e que pôs o país em risco de guerra civil, levou novamente à expulsão de todas as Ordens Religiosas de Portugal e ao consequente encerramento dos conventos. Os bens foram confiscados e incorporados na Fazendo Nacional; e os seus membros — os que não fugiram do País — foram condenados à “rua”.
Foi neste contexto histórico que nasceu a Congregação das Irmãs Hospitaleiras. E nasce apenas e só pelo simples facto de haver necessidade de alguém que continuasse a manter os olhos e o coração abertos aos outros e ao mundo.
É que ontem, como hoje (ao contrário do que se quer fazer crer), as respostas às necessidades sociais, incluindo a própria sobrevivência, só com a ajuda de pessoas com Evangelho de Jesus Cristo a correr-lhes nas veias é que se podia minorar tanta miséria. E foi o que aconteceu com a nossa protagonista, Madre Maria Clara. Ela pôs-se à frente deste mistério que foi o de fazer de todos os pobres a «sua gente».
Chama do Carmo I NS 111 I Maio 22, 2011

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