domingo, 8 de maio de 2011

Os seus olhos estavam impedidos de O reconhecer!

Este terceiro Domingo de Páscoa é também chamado o Domingo das Aparições de Jesus.

De acordo com a narrativa de Emaús Jesus ressuscitado aparece a dois discípulos, caminha com eles e com eles fala. Por fim, acedeu ao convite e acolhe-se na casa deles. Depois, à mesa, recita a bênção e parte o pão. Quando se abriram os olhos aos discípulo Ele desapareceu. Porquê?Eis por que muito gosto da narrativa dos Discípulos de Emaús: Porque é intemporal.

Não creio que seja apenas um relato longínquo, acontecido uns poucos anos antes da metade do primeiro século cristão.
Não. O percurso para Emaús é muitas vezes o percurso de tantos dos discípulos de Jesus ao longo de todos os tempos.
Um pouco de atenção é o bastante para nos pormos em sintonia com aqueles dois corações nublados, tristes, entorpecidos, decepcionados.
Depois de terem vivido os dias da mais bela exaltação do anúncio do Reino e testemunharem a proclamação das Bem--aventuranças, eles sentiam agora que as águas cristalinas já não cantavam aos seus ouvidos, nem havia sininhos nos seus corações.
Depois do inebriamento que culminou com a magnífica entrada de Jesus em Jerusalém e da serena intimidade da Última Ceia, também eles acabaram abandonando-O. Também eles O viram atraiçoado, humilhado, esfacelado, crucificado, morto, frio e ensanguentado ao colo choroso da Mãe Dolorosa.
Ignomínia total.
Morto o Pastor, dispersava-se o rebanho ferido por estupor, desconcerto e aturdimento.
A vertigem da queda e o anti-clímax não são fáceis de tragar em época alguma.
Que dirão em casa? Que dirão aos amigos da aldeia depois da longa digressão de três anos? Não, não, eles não temem voltar ao trabalho, apesar de que, mais que nunca, ele tenha o sabor a amargo e a ranço.
Sim, é verdade, também eles haviam fugido. Mas no fundo do coração não tinham renegado a Jesus, esse homem espantoso em gestos e sinais! Sim, o encontro com o Mestre galileu fora tão intenso que não será fácil de olvidar. Tinham vivido como num sonho das arábias e o sonho acabara, mas era doce de mais para esquecer. A desilusão era agora tão grande como antes tinham sido lindos os sonhos!
O caminho de regresso era tão duro por isso, porque parecia o fim do sonho. Porém, em boa verdade, eles não sabem falar de outra coisa que não de Jesus. E é quando regressam desiludidos remoendo a desilusão, como quem chupa um caroço amargo, que Jesus se põe a caminho com eles.
(Deixem-me que actualize o plano:)
Quando o vale se revela mais profundo e escuro, quando o negrume mais se apossa do nosso coração e das artérias do espírito, quando humanamente o caso está perdido, quando mais ninguém viria, então, sim então, Jesus vem para o caminho connosco. Quando viramos costas ao futuro, Ele vem. Quando regressamos ao passado, Ele vem. Quando o véu da desilusão nos vela, Ele vem.
Ontem e hoje, o Senhor vem. Por todos os caminhos vem o Senhor connosco. Onde houver discípulos de coração acabrunhado Ele virá aquecer-lho porque não sabe fazer outra coisa!
Em qualquer caminho de qualquer era, o Senhor vem caminhar no meio de todos os discípulos, até mesmo dos mais cobardes.
É isso que o relato de Emaús quer dizer: O Senhor jamais deixa de caminhar connosco!
Mas, então, se o Senhor vem, se o Senhor caminha connosco, se o Senhor não nos abandona, porque, então, O não sentimos a caminhar connosco? Porque não se aquece o nosso coração até rebentar como outrora aos de Emaús? Porque O não reconhecemos no meio de nós? Porque estão os nossos olhos impedidos de O reconhecer também em nossos dias caminhando connosco?
Causa e razão simples: porque vivemos no passado, porque lemos as Escrituras por conveniência própria e sem o Espírito de Jesus, porque ainda não lhe debitamos a Ele todas as nossas dores, angústias e desilusões!
Emaús é qualquer lugar aonde regressemos desamparados e sós. E é oportunidade feliz de Jesus fazer caminho connosco até que a ilusão de novo se incendeie até à incandescência!
A certeza é esta: ainda que atravessemos o Vale da Morte Ele nos acompanhará, nos ouvirá, nos explicará as Escrituras, se sentará connosco à mesa, nos repartirá o Pão, nos incandescerá até não mais precisarmos de viver chupando o passado da desilusão!
Quem quer vir para o caminho?

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