sábado, 16 de fevereiro de 2013

Quem não se converte não se diverte

Como Igreja caminhamos já rumo à Páscoa, isto é, estamos em Quaresma. A Quaresma é isso mesmo, caminho feliz para a Páscoa. Em si mesma ela não tem sentido. Fechada em si mesma ela não tem razão de existir. A Quaresma não é um tempo forte ou importante por si mesmo, mas por causa da Páscoa. É uma preparação. Estando em Quaresma encontramo-nos desde já a celebrar a Páscoa:
por um lado, contemplamos a Páscoa desde longe; por outro, participamos já da Páscoa de Jesus.
A celebração dos sacramentos do Baptismo, Confirmação, Reconciliação e Eucaristia introduzem a nossa vida nos mistérios de Jesus, na Sua Páscoa. Os sacramentos marcam-nos encontro com Jesus. E a Quaresma é tempo de serenamente regressarmos aos sacramentos.  O tempo quaresmal é um longo tempo baptismal: somos chamados da morte para a vida, somos convidados a morrer para o nosso pecado e a ressuscitar com Cristo, nossa verdadeira vida.
Não é sem alguma surpresa que chega a Quaresma. Mas também é verdade que chega desejada. Ela chega, enfim, quando por fora a natureza começa a sobressaltar-se com a renovação. E é óbvio que por dentro queremos acompanhar o ritmo natural. (Sim, somos mais sensíveis ao exterior que ao interior, mas o movimento é ao invés.)
A Quaresma chega sempre rápido de mais, já que nos custam os exercícios que ela nos propõe. Mas chega com um apelo a que todos somos naturalmente sensíveis: mudança.
Três são os exercícios que podem ajudar-nos na nossa caminhada de mudança e conversão, a saber: oração, mortificação e caridade.
Nestes dias até à Páscoa deveríamos andar mais disponíveis e abertos para a atenção e o diálogo íntimo com o Senhor, falar-Lhe com simplicidade, dizer-lhe o tudo e o nada, dores, mágoas, rupturas. E conquistas e sonhos. E assim, por que não participar diariamente ou mais assiduamente na Eucaristia? Por que não ler diariamente a Palavra de Deus que a Igreja propõe? – Se não sabe como, pergunte a um sacerdote. Ele saberá orientar essa boa leitura. Por que não rezar Laudes e Vésperas? – Pode vir rezá-las com a Comunidade do Carmo, às 7:30h e 19:00h; faça-se avisar previamente, por favor. Por que não (re)ler a Paixão do Senhor, sobretudo nas Quartas e Sextas-feiras? Por que não venerar a Paixão do Senhor meditando os Passos da Via Sacra? – Nas nossas paisagens existem muitos colinas com via sacras e calvários, testemunhos artísticos dos últimos passos de Jesus na terra, porque não visitá-los e percorrê-los? Por que não, neste tempo, dar mais espaço ao crucifixo, colocá-lo em lugar de maior realce em sua casa?
Neste dias poderíamos andar mais disponíveis para a mortificação, através da prática do jejum e da abstinência. O jejum deve praticar-se na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa e supõe fazer apenas uma refeição frugal (mas além desta deve fazer-se sempre o pequeno almoço.). A abstinência de carne (ou de comidas avantajadas) deve praticar-se obrigatoriamente às Sextas-feiras. Tudo tem uma fundamentação, e por isso a abstenção não é só de carne, mas de tantos meios de consumo e de tantos estímulos em que andamos encharcados. O homem só é ele mesmo quando consegue dizer não aos desequilíbrios em que escorrega a fim de viver melhor o domínio equilibrado de si mesmo.
Por sua vez, a prática da caridade abre os nossos corações encastelados e deixa entrar neles os frágeis e necessitados. Tu vais jejuar nesta Quaresma. Então, por que não cresces na renúncia e no desapego? Por que não te desprendes dos tostões que poupas e ajudas um pobre? – Talvez não seja necessário dar-lhe dinheiro, talvez apenas precise duma palavra de orientação, de uma companhia e uma mão-cheia de arroz: por que não lho dás? Podemos ter muitas coisas legítimas conquistadas pelo nosso suor e dinheiro, mas de que valerá isso se alguém ao teu lado tem frio e continua a precisar de se vestir, tem fome e precisa de comer?
Podemos ficar parados? Parar não é vida, não é Quaresma. É preciso mudar. E mudar é para corajosos, para gente insatisfeita e capaz de  sem medo botar os pés ao caminho. Não penses na Quaresma como um ataque à tua vida, mas aos vícios que arruínam a vida. O que não é vida não convive bem com Jesus, por isso a Quaresma nos chama a quebrar as amarras que nos amarfanham, e chama-nos para a liberdade interior que cura as nossas feridas e nos abre para o abraço fraterno.
A Quaresma é para campeões: ela abre-nos a possibilidade de encantamento com Jesus, para O conhecermos melhor, para O amarmos ardentemente e O seguirmos generosamente. Se sentires os olhos de Jesus nos teus não os baixes, mas fixa-te Nele porque o seu olhar é amar. A amizade com Jesus abre-nos para grandes possibilidades. Viver sem conversão não tem piada: Quem não se converte não se diverte! E, afinal, ao que parece, o único lugar que não tem mesmo piada alguma nem alguém a rir-se é o Inferno. A evitar!

Chama do Carmo I NS 176 I Fevereiro 17 2012

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