domingo, 3 de fevereiro de 2013

Três pequenos rostos de consagrados

Senhor, pessoas há que me dizem muito.
e outras muitas que não me dizem mesmo nada.
Todos, porém, me ajudaram como ninguém
a abrir o coração, a erguer as mãos e a rezar,
a pôr a razão a cantar, a alma a bendizer,
e eu, desconcertado,
ficando tantas vezes sem saber
o que falar ou dizer, e sem acertar o combinado.
Aceita, Senhor, nesta Semana do Consagrado,
a minha oração com estes três Carmelitas.


Frei Lourenço da Ressurreição
1614, Hériménil, Lorena, França.
1691, Paris, França.


Senhor,
eu te louvo e agradeço pelo Irmão
Lourenço da Ressurreição.
Três anos foi soldado
mas dali saiu magoado e manchado
pelo pecado.
Carmelita se fez em Paris,
que Deus assim quis.
Quinze anos de cozinheiro
outros tantos de sapateiro.
Foi assim que aprendeu a viver
a presença de Deus no trabalho.
E a conversar com Ele sem prever
e sem cuidar de se preparar,
sem necessidade de delicadezas,
simplesmente a com Ele estar
com simplicidade e bondade.
Sempre de avental posto
e sorriso no rosto lutou contra o mal;
e a gosto dizia que as palavras pouco valem
porque só o amor faz tudo.
E ao morrer
declarou com solenidade
que poderia partir para a eternidade
porque ali faria o que sempre fizera:
a Deus bendizer e louvar,
amar e adorar,
por nada mais ser necessário.
Ámen.


Frei José António da Imaculada Conceição
1914, Pamplona, Espanha.
1990, Marco Canaveses, Portugal.


Senhor,
eu te louvo e agradeço pela vida venerável
de Frei José António da Imaculada Conceição,
vindo de outra nação para junto de nós.
Por aqui caminhou,
aqui ajuntou, serviu e amou
a Deus e a sua Mãe
a quem
o coração entregou.
Sua vida desvelou, todo inteiro se deu
e para si nada reservou.
Amava o Menino Jesus e o Santuário,
onde morreu,
a Nossa Senhora e o seu Escapulário,
onde perto viveu.
E Aveiro e Viana onde rezou,
ensinou e animou, celebrou e confessou.
Recordo-lhe a letra ponderada e linda,
o rosto maduro, a fronte larga e ainda
umas mãos feitas para abençoar.
Recordo-lhe o português perfeito e belo
e o anelo de aqui ficar
nesta terra que em nome do Santo Deus
ajudou a santificar.
Recordo-lhe as contas certas,
as mãos ágeis e despertas,
o gosto pela festa e de preparar
um jantar – eu bem sei –
bem digno de um rei!
Recordo-lhe a têmpera ardente,
a alma silente, o olhar aceso e vivo,
o coração contemplativo e manso
e os pés de profeta sem descanso
e sem meta.
E é assim que recordo no coração
o bem-aventurado Frei José António
da Imaculada Conceição.
Recordo por fim, pois não posso esquecer
o venerável de joelhos,
diante de nós, novos e velhos,
dando-nos a derradeira lição
do dar humilde e humilde receber o perdão.


Frei Jean-Thierry Ebogo
do Menino Jesus e da Paixão
1982, Mfou Awae, Camarões.
2006, Milão, Itália.


Senhor,
eu te louvo e agradeço pelo Irmão
Frei Jean-Thierry do Menino Jesus e da Paixão,
que quis ser como Jesus, mas pequenino
como Jesus Menino.
Foi menino de brincadeiras,
santas e rezadeiras,
acólito, catequista e promotor vocacional.
Quis também ser cientista para ajudar
o seu povo no campo social.
Era alegre e de bom humor, poeta
simples e sempre da classe primeira.
Animador de festas e muito admirado
acabou entrando no noviciado
Carmelita, para ser sacerdote de pureza inteira.
Na curta vida de vinte e dois anos
nada é fácil ou breve de contar,
porque tudo é tão denso,
imensamente mais do que penso.
Morreu jovem olhando o bom Jesus
a quem tanto se queria igualar.
Sofrendo muito sofreu a Paixão
do Verbo Incarnado num hospital de Milão
sem nunca dizer não
a mais um e outro contratempo.
Morreu depois de ter professado
e sem nunca algo ter negado
ao bom Jesus e a sua Mãe.
Quem o viu o sabe, quem o sabe o contou:
Perto do fim o menino sorria em sua cama
vestido com o hábito da Mãe do Carmo
a quem Ele tanto tinha honrado.
E posta a branca capa da pureza
que com tanta firmeza tinha amado.
E assim morreu
quem tão curto viveu e tão rápido subiu
o cume da perfeição do místico monte,
como quem foi feito para triunfar
num rápido caminhar
o curto caminho da fonte.

Chama do Carmo I NS 174 I Fevereiro 3 2013

Sem comentários: