sábado, 13 de abril de 2013

Examinar-te-ão no amor!

A celebração deste domingo terceiro da Páscoa convoca-nos para o início da celebração da Semana de oração pelas vocações. Qualquer um de nós sabe que um dos ingredientes da sua vocação foi e é e sempre será a oração, essa água viva que nos renova e alimenta. Ninguém na Igreja é uma ilha, ou como diria São Paulo: ninguém nasceu de si mesmo, ninguém vive para si mesmo. E se vivemos para os demais é justo que eles velem pela minha vocação. Se é justo agradecermos os dons que recebemos, é justo e santo  agradecer a bondade de Deus que nos dá homens e mulheres vocacionados, dispostos a peregrinar connosco os trilhos da fé, do amor e da esperança.
Ninguém merece caminhar sozinho.
Francisco acaba de ser eleito. E a Igreja não acaba de se surpreender com os gestos simples do Pároco do Mundo. Será que ele os vai manter? Até quando poderá surpreender-nos com gestos novos (antigos no mundo, novos num Papa)? A quem mais surpreendem os gestos de Francisco ao mundo não-católico, ao mundo católico, ou ao mundo de eminências pardas do Vaticano?
Não sei. Sei, ou melhor, imagino que nas reuniões prévias ao Conclave os cardeais falaram e estudaram a situação global da Igreja. Também me parece óbvio que nesse momento de graça que Deus deu e Bento XVI propiciou terão falado daquele, que entre eles, poderia ser quem a Igreja estava a precisar.
(Parece-me que o Espírito Santo não voa sem mais e poisa na cabeça do eleito para que todos vejam a escolha de Deus! Não. O estudo, a oração e a reflexão são instrumentos que ajudam a ver melhor a realidade. E à hora de eleger escolhe-se o mais capaz.)
E pelo mundo fora não houve jornal ou pasquim que não tivesse falado do assunto da eleição do novo Papa e quem devera ele ser. E não acertaram. E a meu ver se ninguém acertou é porque a todos faltou o olhar colegial que lê o mundo e a Igreja como por aqueles dias se via e lia catolicamente pelo coração dos cardeais reunidos.
Em cada tempo a Igreja tem os seus problemas. Referiro-me aos que dizem respeito ao anúncio do Evangelho ao mundo: pois o Evangelho não se anuncia sempre da mesma maneira! E é por isso que a escolha de Francisco, sereno, simples e sorridente, me parece encaixar no perfil que os crentes tanto desejavam.
A cor dos sapatos não faz um Papa! Mas o coração, sim. O que nós precisamos não tem a ver com a cor dos sapatos ou se os vemos cambados ou não, mas se o coração do Papa ama a Jesus! E se ama o rebanho de Jesus, as suas ovelhas cansadas, as feridas, as perdidas, os carneiros sonhadores, os cordeirinhos que tiritam de frio e ainda não apreciam a erva tenra, e tantas tantas ovelhas que não estão neste redil por que o sentem sem coração!
Por aí preciso eu, precisamos nós, que o Papa vá e se revele: como um homem com coração. Como um pai que nos aconchega ao peito e cuja mão nos abençoa e afaga.
O calor do coração é o exame de Francisco, que é o exame permamente de toda a Igreja.
Também Pedro teve de passar por ele, pois Jesus não lhe confiou o rebanho sem lhe escrutinar o coração, e lhe ouvir a voz até às lágrimas.
Não há exame que não seja sobre a matéria dada; e não há matéria que Jesus mais tenha dado (e confirmado com a própria vida!) que o amor. De amor e só de amor falou e ensinou Jesus nas suas aulas teóricas e nas práticas. Sim, Jesus sempre falara aos seus discípulos que Deus é amor: Ele mesmo era nos seus gestos e palavras o rosto verdadeiro de Deus. Amor, amor, amar o amor, amar o próximo eram os sumários das aulas de Jesus. Não havia nada mais importante. E por isso a resposta ao exame não seria difícil: só admite uma de duas possibilidades: ou ‘sim’, ou ‘não’.
Dar a resposta não é o difícil, abrir o coração à pergunta já o é, porque Jesus perguntou a Pedro: «Tu amas-me mais que estes?»
Não pode haver pergunta mais implicativa: como poderia Pedro traidor comparar-se? A quem haveria de comparar-se? Pedro não se atreve a comparar-se a alguém e afirma apenas: «Tu, Senhor, Tu sabes que eu te amo!». E não é por amar mais, mas porque ama Jesus que Jesus lhe confia o seu rebanho a Pedro, e a cada Hora da Igreja lho reconfirma, porque só se pode confiar o rebanho a quem ame o dono das ovelhas!
À terceira pergunta a conversão de Pedro está concluída. De ora em diante ele sabe já não ter a iniciativa da sua vida. Porque a Igreja nem é de Pedro nem de Francisco, mas de Jesus!

Chama do Carmo I NS 184 I Abril 14 2013


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