quinta-feira, 9 de maio de 2013

Peregrinação à casa natal de Santa Teresa e São João da Cruz: 26-28 de Maio de 2013




Sexta, dia 26
O grupo de Viana chega ao Porto.
O tempo parece estar de feição e o sol alegra o coração dos peregrinos que rezam cheios de alegria e espírito aberto pedindo à Senhora do Carmo a sua bênção para que o “encontro” com Santa Teresa e S. João da Cruz seja profícuo e deixe marcas na alma de cada um.
“Não se deve ir em peregrinação com expectativas bem definidas… É no espírito de total abertura e entrega à sabedoria e à força do amor divino que obteremos as maiores graças da peregrinação”.
E lá vamos, estrada fora, recolher mais peregrinos que se juntarão ao grupo. E entram uns em Antuã e entra, em Viseu, o nosso já tão querido Padre António da Encarnação.
Mas o céu prega-nos uma partida. Enche-se de nuvens negras que começam a descarregar torrentes de água imensa acompanhada de trovões estrondosos.
A condução tem de ser cautelosa o que faz atrasar a hora de chegada ao destino – Ávila.
É já tarde, e a fadiga e o estômago vazio fazem sobrecarregar muitos semblantes apenas fascinados pelas muralhas medievais com que se deparam.
E… se o jantarinho tivesse sido à “moda da nossa terra”, todas as contrariedades se teriam desvanecido!
Dormiu-se bem.

Sábado, dia 27
A manhã brindou-nos com um lindo sol e flocos mínimos de neve caindo.
Bom dia! bom dia! – diziam os sorrisos francos de quem se ia entrecruzando e antevendo um belo dia de intimidade com algo de sagrado.
A casa natal de Santa Teresa esperava-nos. Mas…ziguezagueando por Ávila não foi fácil lá chegar. Os nosso coração de peregrinos atribulados encontravam eco nas palavras da Santa Nada te turbe…só Deus Basta.
Nós sabemos que “a peregrinação não é um tempo para desculpas ou lamentações como tampouco é um tempo para vaidade ou fanfarronice, mas é um tempo para descobrir a proximidade na distância, o oportuno no intempestivo, o ilimitado nos limites do lugar e tempo, o sagrado no humano, o divino no ordinário e o eterno no temporal”.
E no local onde nasceu Santa Teresa rezámos as Laudes. Orámos, interiorizámos passagens da sua vida, deixámo-nos inebriar por aquela atmosfera.
Percorremos o Museu repleto de documentos de uma História de Vida fascinante.
Transpostas as maravilhosas muralhas de Ávila (que tão bem conhecíamos das capas e contra capas de edições das obras de Teresa), fomos à procura do Carmelo da Encarnação. Aí contactámos com espaços e episódios marcantes da sua passagem pelo primeiro Mosteiro a que se recolhera: o locutório; a sala onde se encontrara com João da Cruz para delinear o futuro da Ordem e onde se dera a levitação; a imagem da flagelação do Senhor preso à coluna, determinante na sua definitiva vocação; a sua cela com a mesa sobre a qual escreveu maravilhosos e profundos ensinamentos que nos legou; e tantas, tantas outras peças carregadas de história (como a sua almofada de repouso que mais não era que um tronco de madeira)
Depois do almoço (que não foi à Portuguesa!) e de um intervalo (que não foi a sesta à Espanhola), partimos para o Palácio de Rio Frio, já a caminho de Segóvia.
Visita bem guiada, factos bem narrados de (des) encontros e (des) entendimentos entre membros da Família Real, descrição pormenorizada dos aspectos da arquitectura estilo italiano, planta quadrada semelhante ao Palácio Real de Madrid, utilizado exclusivamente para caça nos seus belos bosques e da riquíssima decoração caprichada pela Rainha Isabel, esposa de Filipe V a quem o enteado, Fernando VI, permitiu todos os devaneios e obras de enriquecimento para se ver livre da sua presença junto do Palácio do Governo. No entanto, ironias do destino, nunca chegou a habitá-lo.  Apenas aí viriam a pernoitar Francisco de Assis de Bourbon, cansado das infidelidades de sua mulher e Afonso XII depois da morte de sua esposa Maria das Mercedes.
Finalmente, passagem pela belíssima zona do museu dedicado à fauna e flora da região com recriação dos ambientes em diaporamas dedicados a cada espécie. Um espanto de animais embalsamados como que revivendo no seu habitat.
Já noite escura, procurámos S. João da Cruz.
O que ele sofridamente calcorreou para chegar a Segóvia! Que idas e voltas para atingir o seu destino. Como nós, peregrinos, o compreendemos nessa noite! Nem sempre é fácil encontrar o que procuramos nem encontrarmo-nos a nós mesmos. Mas, a paciência tudo alcança e a celebração da Missa sob o seu túmulo foi edificante.
Ó S. João da Cruz, cantámos guiados pela ave canora já enrouquecida;
A alma que anda em amor,/ não cansa nem se cansa, continuávamos cantando.
O retábulo do altar-mor foi pretexto para revisitar a obra de S. João da Cruz: no cimo, o desenho alusivo ao poema “Subida ao Monte Carmelo”; do lado esquerdo, alusão à “Noite Escura”; o painel da direita, lembrando a “Chama de Amor Viva”; na parte inferior, o “Cântico Espiritual - a fonte” (pinturas do carmelita mexicano Gerardo López Bonilla terminadas em 1982 aquando da visita de João Paulo II)

Domingo, dia 28
Peregrino, onde vais,
Se não sabes para onde ir?
Peregrino, tens um caminho
Pr’a descobrir.
Segóvia em manhã de sol, frio, vento e farrapos de neve. Rua acima, rua abaixo; vira à esquerda, torna à direita. Casas de traçado típico da região, a Catedral rendilhada, a Casa dos Bicos, o Alcazar, a Judiaria, o Aqueduto do século 1 d.C., e eis o Carmelo de San José – TERESA CREDENTES.
Que paz recaiu sobre as nossas faces geladas, tensas e afogueadas!
Naquele convento, acompanhados sem o notarmos pelas Carmelitas da Comunidade em clausura, foi celebrada a Eucaristia. A homília aproximou-nos de Santa Teresa e fez-nos pensar nas atribulações que a Santa precisou padecer e ultrapassar para levar a sua missão avante.
Depois de almoço, já em rota de regresso, dirigimo-nos a Fontiveros, terra natal de S. João da Cruz.
Guiados pelo pároco, Don Genaro, visitámos o local onde ele nasceu e pobremente viveu os seus primeiros anos (hoje, uma igreja), e na Igreja Paroquial apreciámos a pia baptismal e a pequena/bela pintura mural do Baptismo de Cristo, do século XII (!). Aqui cantámos e vivemos um momento de emoção. Estivemos diante do crucifixo que São João da Cruz tanto venerava.
Na praça central, com o seu nome, uma estátua lembra a resposta de S. João da Cruz quando o Senhor lhe perguntou o que desejava como recompensa do seu fervor:
SEÑOR PADECER Y SER DEPRECIADO POR VOS.
Em rápida visita a Alba de Tormes, pudemos rezar frente ao túmulo de Santa Teresa (onde a Santa quis “repousar” sabendo que aí morreria, certa de que a cidade lhe daria um pouco de terra para isso).
E no autocarro, meditámos a Coroa de Santa Teresa (sete moradas) e a Coroa de S. João da Cruz (dez degraus).
“Cantaremos até que a voz nos doa”, incentivava a nossa “cantora oficial”. E assim foi.
Por ser já tarde, jantámos em Forno de Algodres – um bacalhau bem à Portuguesa!
Em Viseu, deixámos o Sr. Padre António que, depois de nos confidenciar o seu relacionamento espiritual com os Carmelitas, nos deixou uma mensagem bem clara: o seu empenho na beatificação de Isabel da Trindade
Dada a Boa Noite a Maria, os peregrinos do Porto chegaram à Stella Maris.
Boa noite, Fr. João; boa noite, Fr. Silvino; boa noite, Vianenses!
E não esqueçamos a regra do peregrino: Ninguém deverá partir para casa tal qual partiu de casa para a peregrinação!

Maria Gagliardini | PORTO

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