segunda-feira, 6 de maio de 2013

Primeira crónica da Peregrinação a Ávila e Segóvia


 
 



O Carmo foi peregrinar até às terras de Santa Teresa  e de S. João da Cruz.
Saímos de Viana do Castelo, na Sexta-feira, dia 26 de Abril de 2013, aquecidos pelos raios luminosos do sol. Chegados à Foz do Douro, no Porto, entramos na Igreja Stella Maris, onde já se encontravam mais peregrinos para se juntarem ao grupo e aí fizemos a Oração do Peregrino, sob a orientação do Frei João e do Frei Silvino, para recebermos a bênção do Pai Celestial.
Continuámos a viagem, recebendo ainda mais peregrinos em Antuã e perto de Viseu, entre eles o Revdo Pe António Encarnação, sacerdote emérito de Viseu.
Chegámos a Ávila, linda cidade com caraterísticas medievais, que, à noite, a luz dos focos, realçava a belíssima muralha que a circundava. No dia 27, Sábado, acordámos, vendo a neve que caía levemente, como maná, do Céu, trazendo o frio que não era esperado.
Na capela da igreja construída no local onde nasceu e viveu Santa Teresa de Jesus, dentro das muralhas, rezámos a Oração de Laudes, presidida pelo Sr. Pe António da Encarnação, e, de seguida, pudemos ver, entre outras belezas,  pinturas representativas de momentos vividos por Santa Teresa: o encontro da Santa com o Menino Jesus, que lhe deu o nome: “Quem és menino?” “Sou Jesus de Teresa!” “E eu sou Teresa de Jesus!”, assim como a fuga da Santa com Rodrigo, o irmãozito mais chegado, quando ainda eram crianças, para serem «martirizados em terras de mouros!», mas foram impedidos por um tio que os encontrou e levou de volta para casa. Mais tarde, pudemos ver os Quatro Postes, local onde os meninos foram encontrados pelo tio, e, de onde se pode desfrutar a vista panorâmica da cidade. Vimos ainda o jardim onde, muitas vezes, os dois meninos brincaram, fazendo igrejinhas e eremidas, imaginando-se a caminho da santificação.
Saímos das muralhas e fomos ao Mosteiro da Encarnação, onde a Santa foi acolhida para seguir a vida monástica e, aí, pudemos apreciar as relíquias dela, nomeadamente, a acha de madeira que usava como almofada, o quarto  e um outro quarto com cozinha, cujo teto de madeira estava preenchido com desenhos das mãos artísticas de uma freira que aí viveu, assim como instrumentos musicais usados lá. Vimos também o sítio das escadas onde o Menino Jesus falou com Santa Teresa e lhe foi acrescentado o nome de Jesus, passando a chamar-se Teresa de Jesus.
Após o almoço partimos para Segóvia, visitando, em Riofrio, o palácio real, com o mesmo nome, usado para os reis praticarem caça. É uma réplica do palácio real de Madrid, de influência italiana, em forma de quadrado, com pátio interior, pois que desenhado por um arquiteto italiano. Vimos os aposentos reais, sumptuosos, de decoração diversificada, de acordo com a época vivida por cada reinado. Apreciámos as paredes adornadas com belíssimas obras de arte, nomeadamente, pinturas sobre a vida de Jesus e outras. Uns quadros da rainha com a marca de flor-de-lis e outros do rei com uma cruz oblíqua, para a rainha assegurar a sua sobrevivência futura, caso viesse a necessitar. A maior admiração foram as salas decoradas com animais embalsamados em ambientes próprios de cada espécie, como veados, ursos, cabras, cães, abutres, javalis, lebres…
E, lá continuámos viagem até Segóvia. No final do jantar fomos abraçados por um pouco de neve suave que nos acariciava e deixava as suas marcas no cabelo e nos casacos. Não sei se por desígnio do Senhor, se por causa da guia espanhola que não conhecia aquela cidade de Espanha ou por qualquer outro motivo andámos depois, perdidos e às voltas. Desígnios divinos? Prefiro pensar que sim, talvez precisássemos de refletir o que nos impede de avançar, pois, na vida, muitas vezes andámos às voltas, voltámos atrás e reiniciamos, enfim. É que, de seguida, fomos tocar na humildade silenciosa de S. João da Cruz, que pedia sofrimento a Deus, e, que realmente, foi muito contrariado nas voltas da sua vida! Um exemplo e modelo para nós!
Aí, nessa igreja construída por ele, e, onde se encontra sepultado, vivemos os mistérios eucarísticos, com a ajuda do Frei Silvino, como celebrante. Pudemos contemplar os simbolismos da água, da luz do sol, da cor azul do céu… o desenho da gota de água que, ao cair, produz muitas outras gotinhas e espalha a água em ondinhas. Aliás, como diz o Papa Francisco, o cristão deve estar sempre em movimento, como a água e nunca estagnar. Apreciámos, também, a linda imagem do santo a subir para o Céu, ajudado pelos anjos. 
E chegou o dia 28, domingo, com suaves pedacinhos de neve a tocarem o chão, como se o Céu quisesse branquear as nossas vestes. Sim, a neve fez-nos sorrir e até abrir as mãos para a receber, numa alegria de comunhão com o invisível que nos tocava, meigamente. Mas foi só um breve momento.
De novo, às voltas pela linda cidade de Segóvia, com as suas belíssimas construções de toque medieval, catedral e outros edifícios rendilhados e majestosos, com o frio a bater-nos na cara, e a percorrermos ruas sem orientação precisa, para desespero da guia com a lição mal preparada. Enfim, por fim, lá conseguimos chegar ao Carmelo de San José de Segóvia, nona fundação de Santa Teresa de Jesus, e, aí, viver a Eucaristia dominical, com a ajuda do Frei João, como celebrante. Linda homilia e tão esclarecedora, sobre alguns pormenores da vida de Sta Teresa que ali recolheu outras irmãs carmelitas, fugidas, de noite, das garras de uma senhora nobre – a Princesa de Eboli – e cheia de atitudes desequilibradas. De salientar que as irmãs desse Carmelo, gentilmente, também viveram esta Eucaristia, no espaço reservado só para elas.
Começámos depois a viagem de regresso. Fomos ainda a Fontiveros, terra natal de S. João da Cruz; fomos à igreja paroquial, onde se baptizou; venerámos o belo crucifixo que ele venerou. Após uma pequena oração, em passeio a pé guiado por don Genaro, Pároco da localidade, conhecemos a igreja contruída no local onde o santo nasceu e viveu tão pobremente.
Na continuação da viagem parámos em Alba de Tormes, cidade que viu Santa Teresa morrer para este mundo como ela tanto queria para subir às alturas divinas. Pudemos ainda ver o seu túmulo e venerar algumas relíquias.
No percurso de regresso rezámos meditando sobre as 7 Moradas de Santa Teresa e os 10 Degraus da Escada Mística de S. João da Cruz, para se chegar ao Céu.
Chegados a Portugal cantámos o Hino como se fora uma oração, e subimos a Fornos de Algodres para saborear um bacalhau assado, bem à moda portuguesa.
E, assim, a peregrinação chegou ao seu términus, ficando em cada peregrino o perfume das virtudes de dois grandes santos!
Maria da Anunciação Pinheiro | BARCELOS

Sem comentários: