sábado, 8 de junho de 2013

Bem-aventurado Afonso Mazurek


Mártir Carmelita. Frei Afonso Maria Mazurek não é um nome maior na vida do Carmo. Mas só por desconhecimento, porque um mártir, qualquer que ele seja, merece todo o relevo. Ao trazê-lo hoje para a Chama queremos iluminar um pouco a simplicidade da sua vida discreta dedicada ao claustro, ao ensino da juventude, ao estudo e à Eucaristia. Creia-se, a sua vida foi discreta mesmo quando se dedicou a salvar os perseguidos do Nazismo e os desafortunados da II Guerra Mundial. A sua discrição agrada-me, como me agrada que tenha conhecido e convivido com o já velho São Rafael Kalinowski, outro carmelita polaco. A santidade também tem genealogia. Talvez hoje precisemos muito dela. Como quem precisa de sinais. A sua memória litúrgica ocorre a 12 de Junho.
Józef Mazurek nasceu no dia 1 de Março de 1891 na localidade de Baranówka, diocese de Lublin, a leste da Polónia. Em 1908, depois de estudar no Seminário Menor dos Carmelitas Descalços, tomou o hábito no Carmo de Wadowice, onde era Prior São Rafael Kalinowski; recebeu o nome religioso de Frei Afonso Maria do Espírito Santo.
Iniciou ali os estudos filosófico-teológicos logo concluídos em Viena, onde recebeu a ordenação sacerdotal a 16 de Julho de 1916. As suas qualidades organizacionais e pedagógicas fizeram-no muito respeitado pela juventude que muito o apreciava; foi, por isso, prefeito e professor no Seminário de Wadowice até ao ano de 1930. Durante a sua gestão conseguiu obter do Estado o reconhecimento como escola particular por ele convalidada. É um dos educadores mais meritórios da história daquele Seminário carmelitano.
Em 1930 foi eleito Prior do Carmo de Czerna, ofício que ocupou atá ao fim da vida, com a excepção dos anos de 1936-1939. Dedicou à sua comunidade carmelita toda as suas energias físicas e espirituais, conseguindo em seus dias reavivar a vida apostólico-pastoral da igreja do convento, que se situava no meio de uma floresta consideravelmente afastada da aldeia. Organizava momentos de oração especiais, em conformidade com o carisma do Carmelo. Amava a música e dedicou-se à direção do coro da Ordem Secular, tanto em Czerna como na vizinha Silésia.
Com o aproximar do fim da II Guerra Mundial recrudesceu a hostilidade dos partidários nazistas contra os Descalços de Czerna.
O mês de Agosto de 1944 foi o mais terrível.
No dia 24 a comunidade carmelita saiu de passeio. Durante a caminhada o noviço Frei Francisco Powiertowski foi fuzilado. Quatro dias depois, um comando militar nazi entrou no convento e obrigou os Carmelitas a exclaustrar-se e deslocar-se para a aldeia Rudawa, a mais de 10 quilómetros de distância, a fim de cavar urgentes trincheiras defensivas. Nesse altura, P. Afonso Maria, foi violentamente separado da sua comunidade. E de seguida forçado pelos militares a subir para um camião. Uns quilómetros depois, num bosque da aldeia de Góra Nawojowa, foi descido, após o que foi brutalmente maltratado e torturado, mesmo quando já estava meio morto. Atirado inconsciente para o chão, dispararam sobre ele e abandonaram-no sem o sentenciar.
Era o dia 28 de Agosto de 1944, vésperas da comemoração litúrgica do martírio de São João Baptista, que tanto amava.
Durante todo o tempo em que foi humilhado e torturado manteve o terço na mão, pelo qual sempre rezava, e que guardou atá ao último suspiro, como testemunharam aqueles que o encontraram o seu cadáver.
Em sua vida viveu sempre a lealdade e a confiança, que incutia aos seus confrades. O fim heróico de Frei Afonso Mazurek foi o último testemunho de sua fidelidade à graça da vocação e da sua confiança filial na Rainha e Formosura do Carmo. Algumas das frases dos seus escritos revelam a sua sensibilidade mariana; dizia:
«Nas aflições, nas necessidades, nas angústias e tentações, sempre me refugiei perto da minha Mãe amantíssima, a Virgem Maria. A ela consagrei todas as minhas forças e as minhas coisas. Fielmente quero permanecer ao lado da Bem-aventurada Virgem Maria, minha Mãe, junto à cruz de Jesus.»
O nosso irmão B. Afonso Maria fundou a sua vida na profundidade da fé, expressa no fiel cumprimento dos seus deveres religiosos e no serviço apostólico, especialmente na celebração consciente e digna da Eucaristia, promovendo a beleza da fidelidade à vida de oração contemplativa. Muitas vezes se recolhia diante do Santíssimo Sacramento, recebendo luz e força para a sua vida e seus trabalhos. Uma testemunha declarou que Frei Afonso Maria
«era um homem de profunda fé, uma fé prática. Serviu a sua Ordem em espírito de fé, bem como as suas funções e ministério sacerdotal. Celebrava devotamente a Santa Missa, com uma devoção que não era artificial.»
A sua fé fê-lo permanecer firme e sem medo na sua missão pastoral durante a ocupação nazi, sem se intimidar com as ameaças de represálias. Uma dessas acções em que se destacou foi o de sempre receber os jovens corajososos como aspirantes à Ordem. Durante a Guerra, expondo--se aos ocupantes nazis, ajudou os que se viam deserdados e expatriados. Enfrentou sempre essas situações com paz e serenidade, como servisse e consolasse neles o próprio Jesus.

Chama do Carmo I NS 192 I Junho 9 2013

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