domingo, 23 de junho de 2013

Quem é Jesus?


Sondagem de opinião. Talvez seja um título muito forte para a cena que se passou nas proximidades de Cesareia de Filipe. Mas não é inadequado de todo. Foi durante uma pausa no caminho que Jesus interrogou os seus discípulos sobre o impacto da sua vida e das suas palavras nas gentes que O escutavam.  Mas não só das gentes, Jesus está também interessado em saber o que pensa o círculo mais próximo dos seus discípulos. Afinal, por que será que eles O seguem? Eles que o vêem também na intimidade — como age, reza, fala, ensina, corrige — que perceberam Dele? Que têm a dizer acerca Dele?
As respostas à pergunta fatídica de Jesus são tantas e tão diversas que isso só sugere a imensa riqueza do mistério de Jesus. Uns vêem-no como revolucionário, outros como filósofo; como reformador social e como profeta; como poeta de palavras poderosas e como líder íntegro e fascinante; como curandeiro e como amigo dedicado e fiel; como modelo ideal de virtudes, de vida de oração e vida espiritual; como mestre inultrapassável e tantas outras coisas!
A vida de Jesus é tão rica que dá pano para mangas a muitas interpretações que podem ou não actualizar-se. Nele se cumprem as promessas do Antigo Testamento e se encontram as mais profundas aspirações da humanidade. Nele se cumprem as antigas profecias e dele partem caminhos novos para todos os povos. A sua vida e sofrimento aproximam-n’O de todos: os meninos entendem-n’O e ainda assim os grandes pensadores não terminam de engolfar-se completamente na sua palavra para a meditar e a repropor continuamente.
Dois mil anos depois faz sentido renovar a sua pergunta: — Quem dizeis que eu sou?
Jesus continua actual, continua a inquietar e a pacificar corações. De dentro e de fora continua muita a gente a perguntar-se por Ele e a falar Dele. Basta ir a uma livraria ou escutar uma conversa de café, que lá surge Ele!
Volvidos muitos anos Jesus desperta ainda grande interesse, seja pelo que se diz de verdade seja pelo que se mente a seu respeito.
Jesus é fascinante, ninguém ouse dizer conhecê-l’O ou interpretá-l’O ou amá-l’O inteiramente.
Ele é sempre muito mais do que as nossas palavras, pensamentos ou sentimentos possam dizer Dele.
Ele é santo e é compassivo, é puro e comia com os pecadores; era terno e cheio duma força indomável; majestoso mas sem perder a humildade; próximo mas nem por isso menos solene; apesar de visível não se tornou banal nem perdeu dignidade.
Nós temos perguntas e Ele é a resposta; afeiçoamo-nos às nossas seguranças e é Ele quem cura os nossos medos; é sacerdote e a vítima que se oferece no altar; é rei e reina nu e escarnecido; dá-nos a saúde e vêmo-lo ferido; é a fonte de vida e aceita morrer à mão dos inimigos.
E poder-se-ia continuar...
Quem é, afinal, Jesus para nós? Que ideia fazemos Dele? Quem é para nós o Profeta da Galileia que não deixou escritos, mas apenas testemunhas? Diremos que o Messias de Deus, mas não chega. É necessário segui-l’O pelo caminho por Ele iniciado e acender o fogo com que também hoje quereria inflamar o mundo. Como poderemos falar tanto Dele sem sentir como Ele a mesma sede de justiça, o mesmo desejo de fraternidade e de paz?
Rezamos o Pai Nosso, sim; mas aprendemos, de facto, a chamar pai a Deus, confiando no seu amor incondicional? E quando deixaremos de vez os fantasmas e os medos que nos impedem de nos sentirmos verdadeiramente seus filhos? Sabemos as fórmulas de fé, dizemo-las e ainda bem; mas, e se elas não traduzem a vida nem tocam o coração dos homens e mulheres de hoje? Por quê ainda dizê-las?
A proximidade a Jesus deve ajudar-nos a descobrir que as suas palavras e os seus gestos são de um Deus amigo da vida! E que Deus é amigo, é, afinal, a melhor notícia que poderemos comunicar a quem procura trilhos que levam ao seu encontro. E sim, nós acreditamos no amor anunciado por Jesus; mas não basta repetir o mandamento uma e outra vez. É preciso manter viva a firmeza de caminhar para a construção de um mundo mais humano e mais fraterno. Afinal, o mundo desejado por Jesus. Conhecer Jesus é actualizar hoje os seus gestos e palavras. É acender a dignidade aos perdidos, curar as feridas, acolher os pecadores, abraçar os excluídos.
Jesus teve palavras valentes para condenar a injustiça dos poderosos do seu tempo. Por que haveríamos nós de nos calar quando Ele não se calou perante a exploração e a desumanidade?
Chama do Carmo I NS 194 I Maio 23 2013

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