sábado, 13 de julho de 2013

Roteiro de caminhos carmelitas


Festas de Nossa Senhora do Carmo. Chamamos a este domingo o Domingo da Senhora do Carmo, não porque seja o 16 de Julho mas por ser o domingo que surge imediatamente antes. Celebramos a Eucaristia, centro e sentido das nossas vidas. Das nossas vidas pessoais, mas também familiares e comunitárias. Impossível para nós não olharmos o rosto da Mãe que tem em seus braços o Menino! Impossível não pensar que aquele Menino é o Filho de Deus, nosso Salvador e alimento das nossas vidas! Impossível não olhar e não crer! Impossível celebrar a Mãe sem celebrar o Filho, porque Ela nos atrai para Ele! Olhamos o seu rosto e rezamos ao seu coração, mas é a Ele que vimos e a Quem rezamos! É domingo, é dia de Jesus, esse bom filho e irmão que nos toma pela mão e nos leva para o colo da Mãe. Porque não a quer só para si Ele no-la dá para também assim ficarmos mais pertinho Dele.
Chegados os dias da Festa de Nossa Senhora do Carmo chegam os das férias, tempo de abrandar e de tomar outros caminhos.
O Verão chegou quente e duro como a porta de um forno que se abre de chofre sobre o rosto. E por uns dias tornou-se difícil sair de casa. Num desses dias quentes tínhamos o Santíssimo exposto. Lá fora derretiam-se as pedras, cá dentro o olhar refrescava-se olhando Jesus.
É verdade sim, o Verão chegou: E por que nos não haveríamos de refrescar continuando a olhar Jesus com o coração.
A lassidão dos dias e o tempo sem obrigações propicia-nos a possibilidade de um roteiro diferente. Neste tempo em que existem roteiros para tudo, desde os monumentos às noites in, também nós, católicos, deveríamos organizar um que nos fosse mais afim.
Por exemplo: não há católico, ex-católico ou católico não praticante que não vá de quando em vez a Fátima. E sim, isso já é um roteiro. Com isto veio-me à ideia que os de antanho semearam capelinhas e alminhas, cruzeiros e calvários por aqui e por ali. Prometo que neste Verão não resistirei a uma capelinha branca semeada no alto de um monte. Provavelmente nada dela saberei. Mas pela certa que um pastor, um lavrador ou peregrino qualquer acharam por ali perto um centelha de devoção e um bom pedaço de barro, e algumas mãos que os ajudaram a erguer quatro paredes caiadas de branco. Essas pequeninas ermidas são refrescos para a alma e para o corpo.
Neste Verão terei eu dois roteiros. Um feito de imponderáveis que me farão subir ao terreiro da mais inesperada capelinha, onde minha alma descanse e o meu corpo repouse à sombra daqueles umbrais. Outro, mais organizado e mais ortodoxo, poderá chamar-se dos caminhos carmelitas. Poderia ser um roteiro físico, com instruções do tipo: «vá por ali e vire além à direita e suba depois sempre até ao fim, depois páre e contemple»; e ainda: «coma aqui, prove aquilo e durma em tal lugar». Mas não será bem assim. É certo que existem em Portugal lugares que dão roteiros carmelitas  inolvidáveis. O meu segundo, porém, é outro.
Neste tempo de roupas largas o meu roteiro será outro. Outro no sentido em que a proximidade não exige ombro a ombro, mas a certeza que desde dentro somos em muitos.
O meu roteiro não será assim só por ser Verão, mas porque sou carmelita. Serão três caminhos.
Primeiro: será um tempo de descanso activo e  de oração. Felizmente poderei arejar a cabeça num descanso que potencia o encontro com o Senhor, o amigo sem mais; e, como direi, não rezarei mais. Mas procurarei ter mais consciência da relação íntima e cordial com o Senhor, na certeza de que a oração é vida e não apenas um oásis na vida.
Segundo: Semearei. Sim, sei. O Verão não é tempo de sementeira. Mas que querem? Aproveitarei o tempo para semear o que um dia há-de crescer, e para regar o que um dia dará fruto. É sabido que ninguém jamais poderá fazer tudo, dizer tudo, cantar tudo, rezar tudo, mas é certo que o que eu fizer poderá ser feito com melhor atenção e mais cuidado. Neste Verão semearei com a esperança de quem dá o primeiro passo duma peregrinação.
Terceiro: Irei à fonte. Como Elias e como Maria irei à fonte. Elias estabeleceu a sua cela junto a uma fonte, e nada mais belo do que imaginar Maria trazendo para casa a vazilha cheia.
Como Elias, o homem mistério, que falava cara a cara com Deus; como Maria que O tomava em seu colo e O embalava. Assim gostaria eu.
Vou procurar que o meu roteiro siga as pegadas de Elias, que foi pelo deserto fora até ao lugar onde o Deus vivo e verdadeiro falou ao seu Povo. Vou procurar o meu coração e ensiná-lo a ser como o de Maria: atento à Palavra. Como Elias e como Maria refrescar-me-ei nas águas vivas que regam a alma e nas que refrescam o espírito.
Procurarei refrescar-me, portanto.
E agora dir-me-ão: é só isso? É. E não é pouco. O Verão dá para fazer o que fazem muitos: fazer muitas coisas. Mas se também no Verão atafulharmos a alma com coisas e mais coisas ela não descansará nem respirará. É por isso que ofereço a singeleza deste roteiro carmelita.

Chama do Carmo I NS 197 I Julho 14 2013

1 comentário:

«M» disse...

Bendita e Imaculada Virgem Maria,
beleza e glória do Carmelo,
Vós que tratais com bondade
inteiramente especial
aqueles que se vestem
do vosso amicíssimo Hábito,
volvei sobre mim
também um olhar propício
e cobri-me com o manto
da vossa maternal protecção.

Pelo vosso poder fortificai
a minha fraqueza;
pela vossa sabedoria
esclarecei as trevas do meu espírito,
aumentai em mim a fé,
a esperança e a caridade.

Ornai a minha alma
com as virtudes
que me faça agradável
ao vosso Divino Filho e a Vós.

Assisti-me durante a vida,
consolai-me na morte
pela vossa amável presença à Santíssima Trindade,
como vosso Filho dedicado
para Vos louvar
e bendizer eternamente no paraíso.
Amém.