sábado, 21 de dezembro de 2013

Mensageiros da Alegria


Queridos irmãos e irmãs carmelitas, paz e alegria no Senhor Jesus que «das alturas nos visita como Sol Nascente» (Lc 1,78) para encher de luz e sentido a nossa vida! O Natal de Jesus é fonte de alegria que inspira a nossa forma de olhar, interpretar e intervir no curso da história. Contemplemos neste Natal o grande anúncio do Anjo do Senhor: «Não temais, anuncio-vos uma grande alegria, hoje nasceu o Salvador, Cristo Senhor!» (Lc 2,10). O Anjo anuncia e convoca a ir ao encontro de Jesus, acabado de nascer, na pobreza de uma gruta, na periferia da cidade de Belém.
Aqueles que chegam à gruta, os pastores, contemplam o mistério e, do encontro com o Menino recém-nascido, enchem-se de grande alegria e partem a anunciar o que viram, não podendo conter o que lhes foi dado pelo Céu naquele encontro com o Menino, rodeado da ternura e do afecto de Maria e José.
Diz-nos o Papa Francisco na recente Exortação Apostólica: «A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo renasce sem cessar a alegria» (A Alegria do Evangelho, 1). Assim acontece sempre na vida dos que se deixam encontrar por Jesus. Assim aconteceu com os nossos fundadores Santa Teresa de Jesus e S. João da Cruz. Ainda hoje, com a actualidade dos seus escritos, nos ensinam a meditar e contemplar a humanidade de Jesus, a tirar todas as consequências do acontecimento da Encarnação do Filho de Deus e a partir sem demora.
O encontro com Jesus não nos deixa mais da mesma forma. O encontro com Ele é sempre transformador. Quando a sedução por Cristo e pelo Seu Evangelho toma conta de nós e nos apanha interiormente, a nossa vida, à semelhança dos pastores de Belém, transfigura-se, torna-se transparente, brilhante e com um desejo imenso de sair para fora de nós mesmos e anunciar a alegria do Evangelho da Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus a todos os cantos da terra. Na verdade, como diz o Papa Francisco: «Na Palavra de Deus aparece constantemente este dinamismo de “saída”, que Deus quer provocar nos crentes. Naquele “ide” de Jesus, estão presentes os cenários e os desafios sempre novos da missão evangelizadora da Igreja, e hoje todos somos chamados a esta “saída” missionária (…), a sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho» (GE, 20). Ora, a saída do nosso comodismo em direcção às periferias da minha vida pessoal, da vida da Igreja e da humanidade, é a melhor forma de acolher e testemunhar a Luz radiante de Jesus nascido em Belém, tornando-nos missionários da Alegria que Ele trouxe à terra ao encarnar.
A nossa família religiosa carmelita vive momentos de graça e enfrenta desafios concretos que nos fazem sair de nós mesmos e encarnar esta Alegria do Evangelho nas nossas famílias, fraternidades e comunidades carmelitas.
Um carmelita é, por natureza e vocação, alguém que se encontrou profundamente com Jesus e, partir deste encontro, transforma-se num discípulo de Jesus que cuida e mima a comunidade e a família; e a partir da vida fraterna em comunhão e pela oração constante, irradia, pela presença contrastante e alternativa no mundo, pelos mais diversos compromissos pastorais e missionários, esta alegria de se ter encontrado com Jesus Vivo tal como Maria e José, os Anjos e os Pastores se encontraram e alegraram com o Seu Nascimento histórico.
Este movimento de saída de nós próprios materializa-se em compromissos concretos com a evangelização em todos os âmbitos e contextos para onde somos enviados. Seja para longe, numa missão ad gentes, seja nos nossos contextos habituais, seja em Comunidade, precisamos de repetir a mensagem dos Anjos em Belém: «Não temais, anuncio-vos uma grande alegria, hoje nasceu o Salvador, Cristo Senhor!» (Lc 2,10).
Nós estamos chamados a irradiar, a anunciar esta grande alegria, orando sem cessar, trabalhando pela conversão própria e dos demais, pelas vocações, pelas missões, pelos valores da dignidade da pessoa humana e da família, pelo direito ao emprego, à saúde, ao ensino… A oração e a vida de um carmelita testa a sua veracidade quando se traduz em obras concretas para com os pobres, em gestos de serviço, de amor e ternura com a família, os Irmãos e Irmãs da comunidade, com cada pessoa que venha ao nosso encontro. Celebrar o Natal é encarnar todos os gestos de Jesus no presente da nossa vida e da nossa história.
Convido-vos, queridos irmãos e irmãs, neste tempo de Natal, a levar ao Presépio de Belém tudo quanto nos ocupa e preocupa neste momento: o sustento económico das famílias, o presente e o futuro das nossas crianças e dos jovens, o respeito pela vida, a luta pela justiça e pela verdade, a nova aurora de esperança que se vive na Igreja universal, o Capítulo Provincial cuja preparação já iniciamos, deixando que seja o Espírito a inspirar cada sondagem, cada voto, cada decisão… o desafio da reestruturação e renovação dos consagrados, das comunidades e das províncias no espaço ibérico, as interpelações que as missões de Angola e Timor Leste nos lançam, a fidelidade aos nossos sacramentos, Matrimónio e Ordem, aos nossos compromissos com os Conselhos Evangélicos segundos os diferentes estados de vida…
Nós, carmelitas descalços (as), com as suas diferentes tonalidades, seculares, contemplativos ou apostólicos, ao fortalecermos a unidade e a comunhão entre nós, seremos cada vez mais estimulados à santidade de vida, traduzida na missão evangelizadora a partir dos meios familiares e profissionais, passando pela pregação, pela pastoral sacramental, académica, social, espiritual... até à vida silenciosa e contemplativa, gastando as nossas forças ao serviço da construção do Reino. «A quem muito se dá, muito mais será pedido» (Lc 12,48). Nós recebemos muito dos nossos fundadores e mestres espirituais, por isso, sejamos sempre generosos na entrega e doação. Tal como o Filho de Deus tomou a condição humana desvelando-Se por nós, também nós queremos encarnar na nossa vida, tudo quanto Ele fez e ensinou.
Que Maria e José nos ensinem a ternura com que souberam amar e cuidar de Jesus. Que eles nos ajudem a encarnar e a traduzir a vida do Seu e nosso Menino na nossa vida de cada dia. O Papa Francisco confidencia-nos que «sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afecto» (GE 288). Foi este afecto e ternura que os pastores contemplaram na gruta de Belém e os transformou em mensageiros e portadores da Alegria de Deus! Que o Mistério de Natal provoque no coração de cada um de nós esta revolução da ternura e do afecto que são a condição e possibilidade para todas as transformações necessárias da nossa vida, das nossas famílias e das nossas comunidades! Na ternura e no afecto que damos e recebemos, actualiza-se o mistério da Encarnação de Jesus no meio de nós, perpetuado através da nossa humanidade!
Um Santo Natal para todos vós!

Pe Joaquim Teixeira, prov.
Natal 2013

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