segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O MIlagre de Mogo

Terminada a ceia a família preparou-se para a Missa do Galo. E um ano mais o patriarca despotricou com costume tão infantil. Quem é que pode acreditar que Deus se faça uma bolinha humana? Isso é absurdo, irracional, uma fábula, repetia Mogo.
E insistia: Estou de acordo que se celebre o solstício de inverno com uma boa ceia e que nos alegremos com os dias que se enchem de luz. Mas jamais acreditar que o Todopoderoso será envolvido em paninhos.
A sua esposa Berta, acostumada à vinagreira anual do marido, respondeu: «Deus faz-se um de nós, para que nós não tenhamos medo e O sigamos até nos salvarmos. Anda, acende o teu cachimbo e fuma, fica à lareira e cuida da casa, que nós vamos adorar o Menino Deus.»
Enquanto Mogo fumava ouviu uma batida na janela, depois outra, e depois muitas mais. Algum engraçadinho, pensou ele, esta a divertir-se a atirar bolas de neve às janelas! Calçou as botas, vestiu um casaco e foi inspeccionar o jeitoso.
A sua surpresa foi grande quando viu um bando de pardais saltando na neve.
Estes pobres animais, disse, desorientaram-se com o frio no seu voo para o sul. Se eu pudesse fazer algo eles não morrerão esta noite…
O bom do Mogo foi então ao estábulo, acendeu as luzes e abriu as portas de par em par. Pensou que se batesse as palmas os desorientados pardais entrariam para se aquecer. Mas os pardais não são como as galinhas e só conseguiu que se assustassem ainda mais e se dispersassem.
Estes pássaros, repetiu entre dentes, estão tão tontos que só se assustam e não percebem que os quero ajudar. Se eu pudesse ao menos converter-me em pardal começaria a voar para o calor do estábulo e eles haveriam de me seguir e evitariam morrer de frio.
Apenas se deu conta dos seus pensamentos, Mogo parou, limpou a neve da cara e caiu de joelhos, gemendo: oh, meu Deus! Meu Deus! Não foi precisamente isso que a Berta me disse: «Deus faz-se um de nós, para que nós não tenhamos medo e O sigamos até nos salvarmos?» Como pude ser tão tolo?
Selou o cavalo e deitou a correr para a igreja, deixando as portas abertas do estábulo e as luzes acesas. Quando chegou cantavam canções. Ele aproximou-se da família e abraçou-os chorando. Regressaram juntos e Mogo contou o que tinha sucedido. Ao chegarem a casa o bando de pássaros dormia nas vigas do celeiro com as cabeças debaixo da asa.
Antes de se deitar Mogo espalhou grão pelo chão. Na manhã seguinte, dia de Natal, toda a família viu que os pássaros e o grão tinham desaparecido.

Paul H. Dunn

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