sábado, 8 de fevereiro de 2014

À luz da vela!

Luz e sal. O evangelho deste domingo situa-nos no contexto do Sermão da Montanha. Estamos, portanto, no início da aventura de Jesus. Na Galileia recrutara discípulos, agora, a caminho, vai instruindo-os com palavras provocadoras e inauditas. Hoje escutamos da sua boca que somos luz e somos sal para para o mundo. Para o mundo, não para nós! Somos sal e somos luz para que por nós, pela nossa luz, Cristo ilumine o mundo! Sim, através de nós Cristo deve chegar a todos, iluminar a todos, dar sabor a todos, dar a todos o sentido para a vida.
A liturgia deste domingo poderia resumir-se numa frase. Uma só frase que condense todo o ser e fazer do cristão. Os textos da palavra de Deus que nos são propostos foram reunidos em torno a uma ideia-programa para cada cristã e cada cristão: a ideia de fazer o bem. E nem é preciso fazer muitas coisas, nem grandes coisas. Basta alumiar o mundo à nossa volta com simplicidade e dar sabor com suavidade e discrição.
Nem tudo o que está à vista se vê. E obviamente que sobressai mais o que se destaca por elevação que aquilo que permanece nivelado. Pode, por isso, ocultar-se mais facilmente o que está no chão que o alcandorado num monte.
Assim é para Jesus a vida de um cristão! Por isso, jamais um cristão deveria ocultar-se.
Todos precisamos de chão e de raízes bem fundas na terra; nós, cristãos, porém, desde a origem, somos mais habitantes de montanha que de planícies. Um cristão jamais deveria ocultar-se, por que, afinal, a nossa vida deve brilhar bastantemente, deve resplandecer bastantemente. É óbvio, que sim.
Subamos, cristãos, para os montes, e, claramente, brilhe a nossa vida. Por que a verdade não pode esconder-se nem calar-se. Se a luz é verdadeira, se a vida é verdadeira, não se esconda, pois, jamais. Se a santidade de vida existe iluminada pelo Evangelho, então ela não pode ser ocultada.
Um cristão não pode nunca esconder a sua vida, porque a luz brilha e a vida dum cristão é luz. Pode a noite ser muito escura, muito escura mesmo!, mas por mais escura que seja a noite nela há sempre luz desde que por perto viva um cristão!
Pode o mundo andar mal, que anda. Pode andar muito escuro, que sim, anda. Sim, o nosso mundo atravessa uma noite muito dura. Mas brilham nele clarmente tantas vidas muitíssimo abastadas de luz.
Há hoje cada vez mais pessoas fazendo o bem sem serem iluminadas pelo Evangelho. E andam também cada vez mais pessoas longe do Evangelho. Porém, a vida vivida com a autenticidade do Evangelho será sempre como o farol que guia os marinheiros em noite escura.
A luz brilha e ilumina mesmo que a noite esteja escura. Ou melhor: quanto mais escura for a noite mais brilha e ilumina a pequenina chama cristã!
O homem de hoje pode negar a Deus, pode até afirmar que não existe. Porém, enquanto existir alguém disponível para viver de verdade a experiência de relação com Deus, Deus, Ele--mesmo, resplandecerá e ninguém poderá nega-Lo. Por que a luz é mais forte que as trevas e que as mais densas sombras. E por que até quando acendemos o mais pequenino fósforo ele vence sozinho a escuridão que o rodeia!
Poderemos ignorar o que Jesus nos diz: «Vós sois a luz do mundo»? Não, não podemos. E havemos de arregalar bem os olhos, porque, um dia,  Ele disse também: «Eu sou a luz do mundo, aquele que me segue não anda nas trevas»! Obviamente, claramente: o que Jesus diz de si, diz de nós. Que somos luz como Ele!
É então que aqui me soa duramente uma campainha na cabeça e me faz perguntar com seriedade: Por que razão, então, os cristãos iluminam tão pouco? Por que passamos tão desapercebidos onde quer que nos encontremos e trabalhemos? Por que tão raramente os demais têm tanta dificuldade em reconhecer em nós a luz de Cristo? Será que a nossa lanterna tem as pilhas do Evangelho já gastas? Será que o Evangelho em que dizemos acreditar está apagado em nossas vidas? Será que de tão mortiço em nós já o Evangelho nada ilumina? Será que levamos mesmo a sério a iluminação que recebemos no nosso Baptismo? Será por isso que a nossa fé não brilha? Por não levarmos Deus – o nosso sol! –  a sério?
Um cristão que não é luz e não alumia não é cristão de verdade. A luz é para ser vista e se a do cristão se não vê tem de reacender-se. A escuridão do mundo precisa de cristãos que aqueçam e alumiem a noite. Mesmo em pleno dia! Os cristãos apagados não são precisos, apenas os que irradiem luz. Não temos direito a ser baços, mas obrigação de sermos brilhantes!
Não temos outra vocação que a de ser luz!
No calor do verão a nossa pele liberta suor, assim também ao longo dos nossos dias a nossa vida deve resplandecer a luz do Evangelho!
A Igreja é lumen gentium, luz das gentes, disse-o o Vaticano II. Quer dizer: a Igreja não nasceu para se alumiar a si mesma, à sua própria casa. Porém, existe para desde a debilidade da chamazinha da fé iluminar em nome de Jesus o coração de todos os povos. Poderíamos nós desejar melhor objectivo para a nossa vida – ser vela que dá luz?

Chama do Carmo I NS 215 I Fevereiro 9 2014

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